domingo, 29 de dezembro de 2019

Farias, homem definido em tranquilidade, repetia seus dias em iguais.
De manhã, acordava sempre reflexivo, não tirava os pés da cama sem antes rezar no mínimo um Pai Nosso, três Ave-Marias e uma Salve Rainha, achava que se não o fizesse Deus iria castigá-lo, e como era por demais metódico não falhava em suas metas (sempre iguais) diárias. Tomava café da manhã sempre no mesmo lugar na mesa, com a mesma xícara, e sempre pondo uma medida exata, duas colheres de leite, uma de açúcar, e quatro dedos de café, girando cinco vezes no sentindo horário, em uma espécie de oração. Enquanto tomava café, olhava pela janela e pensava em muitas coisas aleatórias, de coisas miudas como mudar o vaso da planta assim que chegasse do trabalho, a seu discurso pelas classes minoritárias quando se tornasse presidente do Brasil; no final das contas, Farias terminava o dia sem realizar nenhuma das duas coisas, e seus devaneios matutinos sempre custavam-lhes atrasos. Fisicamente Farias não era bonito nem feio, ficava entremeios, no pêndulo de bonito demais pra ser feio e feio demais pra ser bonito, então acabava não sendo nada, talvez nada fosse uma palavra que o descrevesse, pensava isso nos momentos de solidão. Tinha um cachorro e um gato que amavam-no fielmente, aos quais se prontificavam a esperá-lo, todos os dias, retornar do trabalhar. Após sua chegada, Farias almoçava sempre metodicamente, e dormia por duas/três horas no período da tarde, nunca acordou para além do horário que traçava mentalmente, se tinha algo que sabia fazer era cumprir regras. Ao acordar pegava um livro para ler, ficava se imaginando naquelas páginas amareladas dos livros que comprava, sempre que possível na versão de bolso, quando sobrava mês e acabava a miséria que recebia. Depois de se imaginar como o personagem principal de qualquer coisa que lia, voltava para a realidade e ía à padaria comprar os pães que lhes eram merenda da tarde. Se escrever sobre este homem já é mórbido, imagine quanto que deveria ser desgastante e mui chato viver sua vida? Foi por isso resolvi investigá-lo, pois muito me intriga essa figura demasiado normal, sobrava-lhe normalidade e isso não era normal... Como que alguém poderia viver tão tranquilamente esses dias repetidos? Deveria de haver algo que lhe mantinha são, e tenho certeza que não era seu trabalho de merda como professor do Ensino Médio, muito menos sua maneira ridícula de pôr a mesma medida de café todas as manhãs, de todos os dias, sem dá férias, recesso, nem feriados para falhar na droga daquela medida patética. Enfim, o que quer que seja, eu estava obstinada a descobrir o que matinha aquele homem vivo.
As siglas do meu nome são A. F. S. C., tenho 14 anos e não adianta de nada você se espantar com minha pouca idade, por isso nem vou tratar desse detalhe, o foco é a investigação desse homem, ao qual forjei e forcei um "Tome mais cuidado da próxima vez", pois esbarrei em sua figura monótona e pacata, e para ficar bem clichê derramei algo em sua camisa branca, muito ciente de que tinha umas sete daquelas, todas iguais, como tudo em sua vida. Essa não era a primeira vez que eu invadia sua vida para testá-lo, para força-lo a falar, a transgredir, o que quer que seja da sua vida medíocre e estranha. Toda aquela sutileza em olhar as coisas e as pessoas, toda sua despreocupação e tranquilidade me agoniavam, sim, eu estava completamente incomodada com sua existência! Por mim, ou ele me diria todas suas verdades e desvendaria seus mistérios, ou poderia morrer, e enterrar consigo seus segredos. Mas eu não era alguém que desistia fácil, então eu tinha de continuar com sagacidade, precisava manter a calma, do contrário não iria tirar nada daquele ser absolutamente resoluto em nada declarar. Ele não era meu professor, e eu também não estava apaixonada por ele, nada de contos de fadas, Farias só fazia parte de minha recém descoberta habilidade em desvendar mistérios.

***

Nolite te bastardes carborundorum

Essa era a frase título do capítulo de um livro que lia, ao qual parecia meio estranho, como sua indecente tranquilidade. O que forçava Farias a ser daquela maneira? Quem o mantinha cativo? Será que seus próprios pensamentos? Por que Farias nunca deixava a barba crescer e sempre cortava o cabelo com o mesmo ridículo corte, sempre de dois em dois meses? Ele me consumia sem ao menos saber de mim, dos meus anseios, dos meus medos, e muito menos sem saber que se tornara meu objeto de estudo, minha mais nova investigação, mui meticulosa e profunda, eu o seguia fielmente, na busca de verdades.
O ano começou e aquela figura inofensiva tornou-se o meu professor, foi aí que resolvi mudar de estratégia e comecei a deixar entre suas coisas cartas anônimas, minha intenção era despertar em Farias algum tipo de paixão, não que eu sentisse, eu apenas imitava tudo o que via e ouvia nas conversas de minhas amigas. De início, eu apenas declarava meu amor e admiração pela sua figura pacata e serena (tudo forjado obviamente, pois aquelas eram suas características que eu mais odiava), porém, após algum tempo, decidi colocar no final da última carta um lugar estratégico no qual ele deveria deixar sua correspondência como resposta, para oficialmente trocarmos cartas. Era um ótimo plano para eu invadi-lo ainda mais e descobrir tudo o que precisava de uma vez por todas, o único problema é que Farias nunca deixou uma carta como resposta, então parei de escrevê-las.
Na semana seguinte, Farias faltou a todas suas aulas na escola, e é óbvio que fui a primeira a buscar informações do que lhe havia acontecido, tudo o que ouvi da secretária foi que, devido aos problemas de saúde de sua mãe, teve de voltar para sua cidade natal, desse modo, decidiu sair da escola, mas que havia deixado uma professora que o substituiria. Aquelas palavras caíram como um balde de água fria em mim, aquele desalmado tinha ido embora covardemente sem ao menos me dizer suas verdades! Fiquei absorta em pensamentos, daquele momento em diante não conseguia mais prestar atenção em nada do que estava a minha volta, tudo o que pensava era em como iria continuar sem saber o que se sucederia na vida daquela enigmática figura, para mim. Resolvi ir para casa mais cedo, mas antes, parei na igreja que ficava ali pertinho, sentei numa das sombras do jardim e fiquei observando monotonamente as pessoas entrarem e saírem, foi aí que mergulhei profundamente no meu fracasso, sentindo uma lágrima arranhar minhas bochechas, era a confirmação de que eu nunca mais iria descobrir nada sobre aquele homem, sobre aquela figura patética. Não havia mais mistérios, não havia o que descobrir, não havia mais verdades a serem ditas, aquela tinha sido a primeira e única vez que eu havia amado, em toda minha vida.

Nunca foi sobre você, o foco era eu.

***

Após escrever essa última frase fechei meu caderno e continuei a olhar a figura de Farias, enquanto ele dava aula, eu estava feliz, pois havia acado de escrever mais uma de minhas medíocres (es)histórias.

- Roberta Laíne.


sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

A menina mais linda da cidade

Impressionista ou expressionista, eu só estou impressionada com a tua beleza.

- Roberta Laíne.

domingo, 15 de dezembro de 2019

Para todas as pessoas tristes que estão felizes

Estou feliz porque estou triste, é que toda vez que estou triste me dano a escrever, que é pra dor doer menos, é o poder que tenho de catalizar a dor para que ela passe logo, mesmo que venha num ritmo alucinante e por vezes insuportável. Aqui, sou mais feliz porque sou triste, aqui, posso ser completamente triste sem toda carga negativa que há na tristeza, porque sou feliz na angústia, e sou feliz aqui porque escrevo, e escrever é como um soco na boca do meu estômago, escrever é como um tiro na minha cabeça sem que eu morra, escrever é o momento em que eu revido a vida. Quem tão somente existe não revida, vai passando despercebido, mas quem vive revida, e soca a vida com toda a força de alguém que acabou de perder a alma, como quando chorei não aceitando a morte de um de meus cachorros. Quem vive olha para a vida com os olhos embaçados de lágrimas e diz: eu vou me vingar, você verá, sua patética! E é por isso que estou aqui, mesmo triste, estou feliz, porque é nesse momento que sei que estou revidando e dizendo para todas os pensamentos ruins que me rodeiam: não, não vai ficar assim, não vai ficar barato, eu vou escrever, eu vou escrever e você vai ter que me engolir... ou me ler!

- Roberta Laíne.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Demorei muito para encontrar esse amor, por isso não deixarei que nada nem ninguém nos separe. Tive de ir nos confins de mim, nas entranhas e lugares mais obscuros aos quais não sabia que existiam, fui das tripas ao coração, então, a partir de agora, não deixarei que nada nem ninguém tire-o de mim. Amor próprio.

- R Laíne.
Existir é fácil... É pouco! É miudo! Tanta gente existe... Agora viver, Viver é que é imenso! Ninguém sabe a amplitude, não se sabe quantos, mas vivem, e suas vidas são imensas, são tão imensas que não cabem no universo, quem dirá nesse verso.

Viver é demais...

- Roberta Laíne.

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Dia 06/12, é um texto sobre mim, mas que foi escrito para Luci.

Há dias em que tenho crises de ansiedade e meu coração vai a mil, eu respiro fundo e espero passar. Não dormi tão bem ontem e ao acordar já tive uma crise, mas respirei fundo e fui trabalhar. No trabalho também topei com decepções, mas respirei fundo. Quando saí de lá fui ao banco, precisava abrir uma conta na instituição financeira a qual a escola transfere o nosso dinheiro. Lá, logo na minha vez, um senhor começou a gritar e chamar inúmeros palavrões, foi horrível, os seguranças chegaram e eu respirei fundo. Cheguei em casa tarde, almocei e fui pro meu quarto, tentei dormir  mas não conseguia, então resolvi desbloquear do WhatsApp a menina que eu gosto, e pedir desculpas a ela, caso eu tenha feito algum mal... Nunca faço isso, pois sempre ligo o foda-se e ok, mas resolvi abrir mão do meu orgulho, no entanto, tudo o que vi dela foi imaturidade e agressividade. Por fim, falei a ela o que sentia, que estar com ela era como pisar em ovos, eu tinha que mensurar tudo o que falava, do contrário ela se altera e bum! A bomba explode. E terminei dizendo que não queria ter laço com uma pessoa assim, ela simplesmente me deixou no vácuo até agora, então respirei fundo. Esse foi o dia em que eu mais respirei fundo, e estou te contando tudo isso só pra dizer que, depois de todas as escolhas ruins que fiz, resolvi mandar mensagem pra Luci, nunca vou esquecer o que ela me disse, não foi muita coisa, foi uma frase pequena, mas o suficiente para que ela fosse o único momento em que eu não precisei respirar fundo. Na verdade, quando ela disse que me amava eu sorri, e, respirei de alívio.

Nesse momento a única coisa que quero que ela saiba é que eu agradeço por ela existir, por ser uma das pessoas mais incríveis que eu conheço, pois sempre demonstra o que sente, e por fazer não só eu, mas outras pessoas respirarem de alívio, ao invés de fundo.

Amo você.

- Roberta Laíne. 

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

domingo, 1 de dezembro de 2019

O sofrimento tem deixado a minha visão turva.

- Roberta Laíne.

sábado, 30 de novembro de 2019

Da janela do meu quarto dá pra vê a lua, eu vou querer mais o quê? O que mais pedirei a Deus? Eu sou sortuda pra caralho! Eu tenho um quarto e, da janela dele, dá pra ver a Lua.

Com carinho, 

- Roberta Laíne.

domingo, 17 de novembro de 2019

Leia Mulheres Capanema - Com Márcia Kambeba

Há algumas semanas atrás, em um passeio que fazíamos, as meninas dialogavam sobre quem faria um texto para ler no dia de hoje, para que ele ganhasse vida no aqui e agora, e pudesse fazer uma espécie de apresentação do que estamos vivenciando nesse exato momento. Apontaram para mim, e por isso agora estou aqui dando vida a ele. No decorrer da semana me pegava pensando em como iria começá-lo e sempre me vinha à mente a mesma frase: não era pra eu ter deixado as meninas me escolherem! (risos). Foi aí que resolvi mergulhar na poesia da nossa autora do mês e vê se encontrava alguma pista, palavra ou luz que despertasse em mim uma espécie de início, para abrir essa tarde tão importante para nós. Quanto mais eu mergulhava em sua poesia, mais encontrava a mim mesma, numa espécie de autoconhecimento, e sempre acabava desaguando na frase “Ay Kakyri Tama” em tupi-guarani que deu origem ao nome de seu livro. Foi aí que descobri que a melhor maneira de apresentar o que vivenciaremos hoje, é falar de um nome que nunca mais esqueci, Márcia Wayna Kambeba. Uma multi artista, que assim como seus outros parentes, nasceu de uma gota d’água que topou numa folha de samaumeira, chegou ao igarapé e deu origem aos homens e mulheres do povo Omágua/Kambeba. Além de poeta, compositora, fotógrafa, ativista e mestra em geografia, e de presentear tanto o Brasil como vários países da América Latina, aos quais pisou, levando a importância da cultura e identidade indígena, Márcia consegue em seus singelos poemas viver, permanecer, e dá-nos esperança! A poesia de Márcia é um grito silencioso em prol da vida, é a prova mais palpável de que somos reais, e de que May-tini (homem branco) nunca terá armas suficientes para dizimar as marcas, os traços, as idiossincrasias dos verdadeiros donos do nosso país.
A tarde de hoje é mais que um encontro do Leia, é um presente dos nossos ancestrais que, estão nos entregando a dádiva de ver, ouvir, ler, e sentir a poesia de Márcia. A combinação do Leia Mulheres Capanema, mais a potência artística de Kambeba, é a fixação no cume da sociedade, da bandeira do feminismo, da minoria, das lutas de classe, da sobrevivência, do lugar de fala, da manutenção da nossa identidade e da voz, o poder da voz, o poder das palavras, o quão a poesia pode chegar a lugares jamais imagináveis, dos mais íngremes e esquecidos aos mais prestigiados, a poesia que atinge, que liberta, que te faz rir e chorar, e a cima de qualquer coisa que nos comove criticamente, de forma visceral, a todos. Márcia, muito obrigada por morar na cidade, sem perder seu ser indígena, sem perder sua identidade, obrigada por sobreviver, e fazer com que, através de sua poesia, eu me lembrasse de quem sou, a que lugar realmente pertenço, do mergulho profundo no rio da ancestralidade, da espiritualidade, do meu verdadeiro eu, no rio do que é real e pulsa no meu sangue. Obrigada por sua poesia ser a prova mais concreta de que existo como mulher, e resisto como poesia.

Roberta Laíne.

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Eu tenho pra mim que esses tempos minha alma está meio turva, estou sentindo-me um pouco cinza, meio em neblina, com o tempo fechado... Vai vê eu preciso vir mais aqui e escrever um pouco mais, até essa coisa indizível desprender-se de mim, ou vai vê são só os meus medicamentos que se adaptaram ao meu corpo, meu cérebro, como sempre, passando a perna em mim. Ou vai vê eu tenha estagnado aqui, bem aqui, em mim mesma, ou talvez eu esteja lá, mais lá, um pouco à frente. A única coisa que sei é que não estou em harmonia com o momento, estou fora do compassado, dançando sem sincronia com a música. Ou vai vê esse seja meu epicentro, o estado mais condizente com o que de fato eu seja, tempo fechado, nuvem cinzenta, dança fora do ritmo, neblina às seis da tarde.

- Roberta Laíne.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Eu acho que morrer não deve ser tão ruim assim como a gente imagina. Acho que deve ser tipo o ponto final que a gente coloca no término da resposta de uma prova, ou na última linha de uma redação, acabou, ponto. Simplesmente acabou, ponto. Não dá mais pra voltar atrás depois que você entrega, independentemente se o que você tenha feito seja bom ou ruim, simplesmente acabou e ponto... E sei que você vai me questionar sobre o que vem depois do ponto, mas aí, meu caro, você vai precisar morrer para descobrir, ponto.

- Roberta Laíne.

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Não morra antes de mim

Faz tempo que esse texto não sai da minha cabeça, fica arranhando minha alma, é como aquela gota que pinga na telha e depois na latinha de refrigerante que esquecemos de jogar no lixo, agora ela incomoda no inverno fazendo barulho com os pingos d'água. Esse texto me perturba, já acordei no meio da noite suada com a frase brilhando, como um anúncio de boutique: "não morra antes de mim" e hoje resolvi me livrar dessas palavras mal resolvidas, vomitadas a força. Essa frase é para você, especialmente você, a próxima pessoa que eu irei amar, não morra antes de mim, não, não morra. Se você vasculhar minha vida, vai encontrar a marca e origem dessa frase, na biblioteca da minha alma, na seção Cássia, tem tudo escrito, e a única coisa que tenho a dizer é que você não precisa me prometer nada, absolutamente nada além de que não vai morrer antes de mim, e sobre isso não há segredo, não há explicações maiores ou delongar, é somente isso, está tudo nessa frase, está perfeitamente amontoado nessas palavras, não morra, não morra antes de mim.

- Roberta Laíne.

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

C

Somos extensos demais para caber em um livro... Contradigo: houve uma vez que eu coube em uma frase.
Somos extensos demais para caber em uma frase... Contradigo: houve uma vez que eu coube em uma palavra.
Somos extensos demais para caber em uma palavra... Contradigo: depois que você morreu eu coube no silêncio.

- Roberta Laíne.

domingo, 6 de outubro de 2019

Mesmo quando nada é dito é preciso parar e ouvir.

- Roberta Laíne.

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

De todas as loucuras que eu já fiz em minha vida, escrever é a maior delas...

- roberta laíne.

terça-feira, 27 de agosto de 2019

1 ano de Leia Mulheres Capanema


Hoje, no dia em que redijo essa carta, são 22 de agosto de 2019, já está no cair da noite, mas resolvi sentar e escrever um pouco do que tenho aqui dentro, é arriscado eu sei, esse movimento de dentro para fora, às vezes me é arriscado, mas eu precisava arriscar e dizer o que estou sentindo. Provavelmente, quando esse texto criar vida, que será o momento em que eu o compartilharei com vocês, irei tirá-lo de dentro da minha mochila, dizendo palavras como “Eu escrevi uma carta a vocês” e minhas mãos estarão agarradas  a ela, como quem abraça e diz: é singelo, é simples, mas é para vocês, foi eu quem fiz, com alma e coração. Esse texto entrará em vocês dizendo: “Hoje é o aniversário de um ano do Leia Mulheres Capanema, e é por isso que essas palavras existem”, e é assim, é dessa maneira, como muitas coisas em nossas vidas, as quais existem para entranhar em nós, e ficar tempo suficiente para dizermos: “É para sempre” e é assim que o Leia é, foi e será, será para sempre, da maneira mais romântica e melosa, e, talvez dramática, que você possa imaginar. É para sempre, pois teve um início, como a maioria tímido, querendo aceitação, precisando de atenção e espaço, as quais foram dados no dia 25 de agosto de 2018, quando saímos de casa para nos encontrarmos na praça Magalhães Barata e dialogar na nossa primeira roda, sobre o livro “Sejamos todos feministas” de Chimamanda Ngozi. Saímos da praça cheios e cheias de sonhos, de material documentada por meio de fotografias e palavras, tantas palavras, nos abraçamos, sorrimos, depois choramos, e ficamos nessa troca de sentimentos por meio das palavras, soltas ou embargadas, era tudo o que tínhamos e temos, palavras. No mês seguinte, eu não pude participar do encontro, mas disseram-me que a leitura de setembro, como o próprio nome do livro sinaliza, encheu o Leia de lágrimas, com “Olhos d’água” de Conceição Evaristo. Depois disso, em outubro, fomos até o jardim da Igreja Matriz e, numa grande roda, nos surpreendemos com Rupi Kaur, em “Outro jeitos de usar a boca”. Rupi conseguiu com poucas palavras incitar inúmeras em nós, se pudéssemos até hoje estaríamos nos reunindo para falar do eco desse livro. Mas novembro chegou, e fomos direto para o oriente médio, foi para aonde nos levou o HQ de Marjane Satrapi, “Persépolis”, ok, preciso parar a fluidez do texto só para dizer que esse é o meu livro favorito, sem risos. Em dezembro, quando o calendário Maia apontava para o desfecho do ano de 2018, o ano do Leia foi finalizado com “Quarto de despejo”, de Carolina Maria de Jesus, nesse encontro eu não pude ir, mas o que eu ouvi e li sobre Maria de Jesus deu-me uma vontade profunda de estar, permanecer, ir, para aonde quer que eu esteja imaginando, dizendo ou sonhando. Chegamos em 2019, a leitura de janeiro ficou por conta de Heloísa Lara Campos da Costa, com “As mulheres e o poder na Amazônia”, eu nunca tinha entrado, em minha mísera existência, em um terreno tão fértil, tão precursor, tão denso e importantíssimo, asseguro, sem medo que, fora um dos livros que mais me trouxe conhecimento, conhecimento bruto e que, até hoje, estou lapidando. Fevereiro foi um mês, absurdamente especial, pois entramos no universo distópico de uma autora que, às vezes, duvido que seja de fato real tamanha sua grandiosidade, falo de Margaret Atwood, com “O conto da aia”, aqui, preciso parar o texto novamente e dizer, esse sim, foi o meu livro favorito, e agora você pode rir, pois eu perdi toda credibilidade dada minha oscilação em qual livro leva o título. Março foi a vez de “Mulheres que correm com os lobos” de Clarissa Pinkola, foi o primeiro mês que fui ao Leia sem ter lido a obra, a priori eu não queria ir, hoje agradeço ao universo por ter ido, tudo o que escutei e que a obra ecoou em mim, a partir da fala das meninas, ainda está em perfeita excitação, ainda posso sentir as palavras, a coisa toda que envolveu. Em abril conhecemos “O que é lugar de fala?” de Djamila Ribeiro, mais uma vez topei em uma porrada de conhecimento, e mesmo com bastante teoria, foi um dos livros que mais me fez humana, um pouco mais humana, demasiada humana, eu nem consigo pôr em palavras o quanto. Em maio colocamos na baila “Um útero é do tamanho de um punho” de Angélica Freitas, um dos livros mais engraçados, modernista, descontraído e genial, pondo-nos a pensar e repensar assuntos tabus antiquíssimos, com uma roupagem nova, uma linguagem contemporânea. Junho foi um mês que sinalizo como especial, pois foi de “Presos que menstruam” de Nana Queiroz, parando o texto só mais essa vez para dizer que esse sim, é o meu livro favorito! Eu devorei-o, sorri, chorei, fiquei inquieta, amargurada, feliz, deprimida, enfim, foi uma mistura de muitos sentimentos, toda vez que me lembro de “Presos que menstruam” agradeço ao universo por ter conhecido a obra, pela sorte de ler e poder compartilhá-la com pessoas incríveis. Estamos em julho, o livro é “Eu sou Malala” de Malala Yousafzai, e eu não sei muito bem o que falar, então prefiro dizer: obrigada, Malala. Bem, espero que você não esteja casada por estar lendo essa carta, já me aproximo do final, o mês é hoje, é esse, é o agora, é tudo o que temos nesse instante, o mês somos nós, aqui, em círculo nesse um ano, com “E se eu fosse pura” de Amara Moira, e a única coisa que me vem à cabeça, para encerrar esse texto, é dizer com muita certeza que nós do Leia também somos trans, todas aqui são trans, porque TRANSgredimos, TRANSmutamos, TRANSformamos. Somos trans porque temos a audácia de ler todo mês uma mulher diferente, o Leia é trans, porque TRANSborda. Feliz nós, feliz 1 ano de Leia Mulheres Capanema...

Disse a mediadora Roberta Laíne.

domingo, 18 de agosto de 2019

É um texto sobre as faltas que inventamos

Por que sempre falta? O ajuste no cabelo, o dinheiro no final do mês, os fios da sobrancelha que cresce e precisa tirar, a roupa amarrotada que deveríamos passar antes de sair, os quilos a menos pra entrar na calça da vitrine - no manequim, os olhos azuis da modelo da capa de revista, a paciência em ter que ir ao médico cuidar da saúde, o retoque de tinta na parede do quarto que infiltrou no inverno, aquela viagem que deveria ter feito antes de conhecê-lo, o mestrado que deveria ter cursado antes de ser mãe, as unhas grandes pra pintar de preto, a blusa cara que você experimentou, mas teve que deixar na loja, o guarda-chuva que preferiu deixar em casa por acreditar que era apenas uma nuvem passageira, o livro que ficou marcado na página 80, a mensagem que escrevi no bloco de notas e não tive coragem de enviar, a torneira que quebrou mês passado e agora pinga a todo momento, o sapato que não coube no pé, mas que você queria, a todo custo, levar, o beijo que você preferiu não dá para não se machucar futuramente, o cacto que você não tirou do sol e morreu na chuva, a senhora que você deixou ficar em pé na missa e depois voltou pra casa se sentindo mal, pois não cedeu o lugar, o lixo que você não pôs pra fora e o serviço de limpeza da cidade não levou, a paciência que faltou, para não ter avançado o sinal e levar uma multa do guarda de trânsito, o blues que nunca mais tocou, o seu João que morreu e parou de contar piadas sobre portugueses, o padeiro antigo que fazia pães deliciosos, o lado do brinco favorito que você perdeu na festa de ontem a noite, a tv que você esqueceu de desligar antes de dormir, o dinheiro que não deu pra pagar a conta de luz, os olhos da moça que passou por você e nunca mais você a viu, e o final desse poema, que vai faltar, porque por mais que eu finalize, vai faltar alguma vírgula ou reticências, alguém em algum lugar ou momento, acrescentaria algo, uma janela que faltou fechar antes da chuva, talvez, porque sobre nossas faltas, das reais as inventadas, elas são sempre infinitas.

- Roberta Laíne. 

sábado, 17 de agosto de 2019

Há uma necessidade insondável, dentro de mim, em estar contigo. Apesar de, mesmo que, em detrimento de, e é aí que fode minha cabeça, eu não sei o que vem/tem depois da vírgula, se você voltar e ler novamente, verá que só há repetição, tudo o que vem é parafraseamento, é tudo repetitivo do dito anteriormente, depois não há nada, nada vem depois da vírgula, e isso é perigoso, é perigoso não saber o que há depois de uma vírgula, e eu morro de medo do que possa ser, desse modo é melhor eu ir estacionando as palavras e deixar um ponto final, mesmo não resolvendo o problema da vírgula.

- Roberta Laíne.


sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Pai, você iria amar Maria Pietra. Ela é sua neta mais linda, tem seu nariz, os meus olhos, e o sorriso de nuvens cruzando o céu, Pai, o senhor iria amar Maria Pietra. Agora pouco estava lembrando de nós, eu e o senhor, como fomos e somos felizes juntos, eu te amo papai, e fazia tempo que não escrevia a ti, mas hoje eu precisava escrever, eu precisava chorar de alegria por ter lembranças de ti, o melhor pai do mundo, o meu papai. Espero que o senhor esteja bem, não quero delongar a carta, foi só uma passadinha de tarde, só pra te dizer que tu, mamãe e Maria, são as margaridas mais lindas do meu jardim, ah, papai, como Maria é linda... tem olhos de jabuticaba e uma vozinha sutil, parece canto de pássaro ao fim do dia, parece música de Tom Jobim. E eu continuo sentindo a tua falta, continuo a me abraçar nas três palavras a seguir,
eu te amo,
peteca.

- roberta laíne.

domingo, 11 de agosto de 2019

Quando estou mal gosto de escrever.
Quando estou feliz gosto de ler e sentir.
Quando estou entremeios gosto de escrever, ler e sentir.

- roberta laíne.

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Astronauta de áries

Eu queria morar na lua pra de lá vê todo o teu corpo, toda noite, toda nua, toda lua, em mim.

- roberta laíne.

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Por que é tão impossível confiar nas pessoas?

- roberta laíne.

terça-feira, 30 de julho de 2019

Como foder o peito em 10 segundos

Eu perguntei quanto que valia em anos alguns segundos com ela, ela sorriu e me abraçou... Isso valeu mais que uma década.

- roberta laíne.

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Todo mundo sabia que a gente se gostava por causa dos nossos olhos... Nossos olhos nos denunciavam a todo instante, era uma espécie de imã planetário, que segurava todas as estrelas do nosso universo. A gente fodia com os olhos, e também trocava carinhos, brigávamos e nos perdoávamos, trocávamos minúcias e detalhes que ninguém jamais entenderia. Com você era muito fácil por uma frase no ar, você era mestre em decodificar minhas entrelinhas... A verdade é que, a gente sabia se olhar como ninguém, como ninguém... Mas hoje, sobre nós, só me restou uma única pergunta: por que nos perdemos de vista? Logo de vista...

Com carinho, 

- roberta laíne.

segunda-feira, 15 de julho de 2019

A gente tem que começar a fazer as pazes com o espelho, e não deixar com que esse espaço gigantesco, recoberto de monstros e vozes, que há entre nós e o nosso reflexo, nos digam coisas. É preciso se olhar e dizer: olha, tá bom o tamanho do teu cabelo, a cor tá bonita, a sombrancelha tá normal assim. Tem que encarar o espelho e dizer, eu aceito essas espinhas, essas manchas não são tão horríveis, todo mundo tem disso também, por que vou intensificar só as minhas? A verdade é que precisamos nos perdoar mais antes de irmos nos olhar no espelho, e se teu espelho continua falando certas coisas, distorcendo a imagem e te pondo pra baixo, então é preciso quebrar o espelho.

- roberta laíne.

domingo, 14 de julho de 2019

E se eu estivesse entre aspas, tu me tirarias de dentro delas? 

- roberta laíne.

terça-feira, 11 de junho de 2019

O inferno é pra quem fica

A gente diz que o maior segredo da vida é a morte como se soubéssemos alguma coisa sobre a vida. Amigo, a gente sabe mais é da morte do que da vida, a gente não sabe porra nenhuma da vida, parceiro. Porra nenhuma!

- roberta laíne.


Olhar além, olhar além... Eu dizia para mim, você precisa cruzar as pernas, soltar os sapatos e olhar além. Respira, inspira, e sente o universo, sente a grama, o céu, e as dimensões que estão além, olhar além e olhar além, eu dizia. 

-roberta laíne.

terça-feira, 21 de maio de 2019

Minha depressão está se fodendo para os meus sentimentos...

- roberta laíne.

domingo, 19 de maio de 2019

Ultimamente ando magoando uma pessoa muito importante para mim: 
eu mesma.

- roberta laíne.

quinta-feira, 16 de maio de 2019

O conhecimento move montanhas e a falta dele as criam. 

- roberta laíne.

segunda-feira, 13 de maio de 2019

Ontem eu chorei com a alma, eu estava tão cansada da vida que minha alma lacrimejou... Hoje, o sol nasceu e eu tive que chorar de novo, eu tive que chorar por dois dias seguidos com a alma; no segundo, eu já estava derramando um rio, no segundo eu já não sabia o que era minha alma e o que eram lágrimas. É o segundo dia que choro com a minha alma.

Com carinho,

- roberta laíne.

domingo, 21 de abril de 2019

Dá-me um pouco de luz,
Dá-me um pouco de ti,
Dá-me um pouco de luz, de ti, e de vida.
Dá-me teu ser,
Dá-me só mais um pouco,
Dá-me, dá-me, preciso sentir.

-roberta laíne.

terça-feira, 16 de abril de 2019


A tua ausência estrangula a minha vida.

- roberta laíne.

domingo, 14 de abril de 2019

Objetar-me? É certo que não, nem louca! Não tenho estruturas para me opôr, não tenho estruturas pra ir contra a mim própria, cada louco com sua loucura. Assim, quando estou pendendo para um lado, eu nem ouso objetar-me, não me questiono, com loucura a gente não brinca, só me observo, não tenho estruturas para peitar-me, cada louco com sua loucura.

-roberta laíne.

sábado, 6 de abril de 2019

Você foi, pois precisava ir, e eu entendo. Eu também fui, pois precisava deixar você ir, então fomos. Fomos juntas. Você não ficou e eu também não. Eu não tentei te impedir, e isso não significa, de modo algum, que eu não quisesse que você ficasse, nem diminui em nada o que eu sinto. As pessoas em geral, romantizam as relações e acham que, somente quem chora, esperneia e implora, é quem quer verdadeiramente, mas NÃO! Quem engole o choro pra chorar em casa, quem não esperneia e nem implora também sente, e sente muito. Inclusive, tô aqui, nesse exato momento, por meio dessas palavras, sentindo... A gente sente, mas precisa deixar ir, o motivo a gente não entende ou talvez até entenda, mas não aceita, todavia a vida não é feita só de coisas entendíveis, a vida também é feita da frase reticente, do olhar perdido, do livro incompreensível, do desligar da tomada pra parar de funcionar. A vida também é feita da flor que murcha, e da parede que infiltra, do morfo que cria nas prateleiras do guarda-roupa, e da goteira que atrapalha no inverno. Entendido isso, a gente fica calmo e não esperneia pra dizer que, a vida é chegada, mas também é partida.

- Roberta Laíne.

segunda-feira, 1 de abril de 2019

A maneira como a gente fode se olhando...

A maneira como ela fode comigo é, de longe, surreal. Não sei o que ela tem, e também não quero descobrir, só posso dizer que é incrível a maneira que ela se abre a mim, a todos os planetas, ao universo. A maneira que ela goza, que diz o meu nome, e que soterra as unhas nas minhas costas... A maneira que ela geme sem medo, e me beija como se fosse o último de nossas vidas, ela não tem medo, não de sentir, não de morrer de prazer. A maneira como a gente se olha, como a gente fode se olhando, como os olhos alaranjados dela procuram os meus, na escuridão do universo, ou na claridade da lua. A gente fode se olhando que é pro amor entrar, a gente fode se olhando porque o amor entra pelos olhos, a gente fode se olhando porque é a única maneira que temos dizer o quão é verdadeiro.

- Roberta Laíne.

quinta-feira, 28 de março de 2019

Me fode, mas me fode com carinho, porque eu preciso, eu preciso dessa dualidade...

- Roberta Laíne.

quinta-feira, 21 de março de 2019

Sofria, mas não dizia, achava tão petulante dizer. Então não dizia, não dizia mesmo, não dizia para ninguém, só sofria, só. Sentia muito, mas, da boca nada saía, só se alguém olhasse muito nos seus olhos... Ah, nos olhos! Se alguém olhasse muito em seus olhos então dizia, se fosse pelos olhos ela dizia, falava tudo, pelos olhos conversava em línguas, falava pelos cotovelos... mas quando o assunto eram palavras de sua boca, ela só sorria, só, sozinha.

- Roberta Laíne.

quarta-feira, 20 de março de 2019

Seu karma nunca será ser esquecida...

Invento você todo dia,
Na carta que rasgo,
No cigarro que trago,
na bebida que pago,
no verso que apago.

te amo,

- Roberta Laíne.

domingo, 17 de março de 2019

É tão difícil separar o Eu poético do Eu patético.

- Roberta Laíne.

quinta-feira, 14 de março de 2019

Deus "é", porque o universo "é", e porque eu "sou", e tu "és".

- Roberta Laíne.

quinta-feira, 7 de março de 2019

O mundo não acabará de uma vez só, como você pensa.
O mundo acaba todo santo dia, como você nem imagina.

- Roberta Laíne.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Estou escrevendo porque desconheço outra maneira de desaguar, há nuvens carregadas ao meu redor, e uma chuva de palavras aqui dentro de mim; tenho muito o que dizer, mas dizer me doi tanto, dizer me rasga violentamente.
Queria ter permanecido analfabeta, queria não saber escrever, queria controlar minhas mãos e não vomitar todas essas palavras que se esgueiram em sair da minha boca, dos meus olhos, dos fios dos meus cabelos e de todo o meu corpo... Mas a memória me ganha, não dá para esquecer a melhor e a pior coisa que aprendi em toda a minha vida: escrever...
Escrever me ganha, as palavras estão acima de mim, e me punem, pois o mundo ao meu redor se amontoa em palavras, são tantas frases, letreiros, vocábulos soltos, sussurros, são tantos ganchos para eu expressar tudo o que tem aqui do lado de dentro, do lado de dentro do ser humano só tem palavras... Cada personagem tem um nome, cada nome carrega uma narrativa e cada narrativa é constituída de um universo de palavras...
Eu me rendo, eu me rendo porque estou aqui, mais uma vez, me derramando em versos, eu me rendo porque não tenho forças para viver em um mundo onde não haja poesia, eu me rendo porque eu preciso desse veneno em meu corpo, preciso nem que seja para rabiscar a minha vida com meias palavras, do contrário nada faria sentido, nada teria real valor em haver. 
Poesia, dor, e amor, eu me rendo, eu me rendo para que vocês sempre caminhem juntas, eu me rendo para eu existir, pois se não fossem essas palavras que me matam, eu jamais estaria viva.

- Roberta Laíne.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Querido papai...

Queria muito escrever uma carta para papai, mas tem alguma coisa que não me deixa, sinto como se algo prendesse meus dedos e impossibilitasse minhas mãos - sinto-me impotente. Mas queria muito escrever a papai, e dizer-lhes das poucas coisas boas que me aconteceram, afinal, de que servem as cartas se não para contar as boas notícias? Não teria coragem de escrever reclamando das coisas aqui na terra e, provavelmente, deixando-o preocupado com os meus pensamentos e barbaridades que sinto, eu sinto muito, ela sabe que eu sinto muito, eu sinto demais.
Mas queria, queria muito escrever a Ele, talvez eu inventasse dias felizes, ou quem sabe mandaria algo subliminar com um trecho de "A paixão segundo G.H" de Clarice: "Dá-me tua mão..." Ah! Como sinto falta da sensação de proteção, como sinto falta de meu pai!
O mundo parece querer desabar... O mundo parece querer desabar em mim... O mundo parece querer desabar em minha poesia. 
Queria tanto escrever uma carta ao meu velho pai, queria tanto lhe pedir que me acalmasse, que limpasse minhas lágrimas e me pusesse no colo, acalentando minha alma enquanto me tira de de baixo dos escombros de minha vida. Ah, meu velho pai, sinto tanto medo, por que não cantas para eu dormir? Como quando fazia quando eu era tua peteca, inábil para lidar com a vida, eu era apenas tua peteca, sem cruz, sem pesadelos, sem culpa, sem medo de mim. Ah, papai! Dá-me tua mão, afaga meu peito, cobre minh'alma, me põe para dormir...

- Roberta Laíne. 

Campo minado

Pago um alto preço por ser honesta com as pessoas e comigo mesma... Num mundo de paisagens, eu sou a bomba que explode sobre o rosto dos que estão despreparados...

- Roberta Laíne.

domingo, 27 de janeiro de 2019

Olhos no teto, cabeça ao chão, mãos nas têmporas: o que diabos eu posso fazer pelo mundo? 
A gente não entende a sutil pergunta da vida, não temos essa capacidade, por simples que possa ser a interrogativa, a gente não entende, porque se entendêssemos a pergunta, estaríamos a meio passo da resposta... O ser humano não sabe lidar com respostas, prova disso é nossa insistente existência miserável. 
O que diabos eu posso fazer pelo mundo? 
A gente peca e depois vai à missa pedir perdão. Esquecido o inferno, a gente peca de novo e volta à missa pra ser perdoado novamente. Doar dízimo à paróquia não adianta. Cuidar dos desafortunados também não, porque esquecido o calor do inferno a gente volta e peca de novo.
Olhos vítreos num quadro que resguarda meu diploma, volta o questionamento: o que diabos eu posso fazer pelo mundo? 
Por que tudo o que eu significo está preso a um quadro 20x13 cm? De que diabos me serve isso, se, agora, centenas de pessoas estão fechando os olhos e partindo para sempre e de nada sei ou posso saber.
Meus olhos se encheram de lágrimas, virei para o lado e o alarme do meu celular tocava com um lembrete na tela: ir ao dentista.
Olhei para as horas e pedi tempo ao mundo, pedi tempo por ter perdido tempo, pedi tempo porque neguei tempo. Pedi tempo porque fui corrupta comigo mesma e nunca me dei tempo.
Enxuguei as lágrimas que escorriam e me levantei em busca do meu caderno para tirar uma folha e deixar um recado para mamãe. Escrevi: Mãe, saí pois precisava fazer a única coisa que eu poderia fazer pelo mundo: ir ao dentista. Dê-me tempo.

Roberta Laíne.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Gosto das que me arranham com força, com muita força, com vontade de rasgar meu corpo e penetrar a minha alma. Gosto das que gemem alto, e gritam um som tão caloroso que poderiam esquentar todo o ártico. Gosto das que empurram meu corpo sobre a cama e parecem mover montanhas, céus, terras e mares. Gosto das que dizem um turbilhão de palavras, esgotando os dicionários, línguas, idiomas, silenciando a raça humana. Gosto das que exageram no verso, no mudo, no poético. Gosto das que puxam meu cabelo e dizem: fode, fode mais, fode com força. Gosto das que olham nos olhos e com apenas um piscar dizem eu te amo... eu te amo.

- Roberta Laíne.
Em tempos de guerra eu quero ser poesia...

- Roberta Laíne.