domingo, 27 de dezembro de 2020


    Vou contar um pouquinho da nossa história. Maria Pietra nasceu como um feixe de luz, e, como todos nós, ela veio com várias missões na terra. No entanto, uma dessas missões foi bastante peculiar: salvar a minha vida...
    Eu estava em um dos momentos mais obscuros da minha existência, Cássia havia se matado e o desligamento precoce de sua vida pairou sobre a minha como uma onda densa de escuridão. Eu não comia, não dormia, passava mal quase que 24 horas por dia, e chorava copiosamente, eu não via saída a não ser me entregar a tudo aquilo. Tenho certeza que minha família também achava que eu iria morrer, não do mesmo modo, mas sim aos poucos, como eu já estava adentrando no processo. Para completar, não tinha aquela desculpa de se agarrar com Deus, pois sempre fui agarrada a Ele, e a Nossa Senhora também. Desse modo, o único jeito era esperar, esperar que um milagre acontecesse.
    Lembro quando colocavam Maria no meu colo para ela dormir, pois, com 2 meses, era só o que ela fazia, ou pelo menos o que nós conseguíamos ver, e assim eu me embalava com ela e chorava perguntando infinitas vezes: Por que? Inclusive, se você perdeu alguém muito importante, independente do modo, você há de se perguntar infinidas vezes o porquê, o motivo pelo qual. Bem, a resposta nunca vem, e nem virá, mas comecei a perceber que Maria não dormia apenas, ela também me escutava, ela me sentia, e respirava para me ajudar a suportar tamanha dor. E assim minhas lágrimas e dor foram se misturando aos primeiros sons de Maria; os espinhos cravados em meu peito foram diminuindo de tamanho conforme os dentinhos de Maria cresciam, e as lágrimas que desciam nas maçãs de meu rosto foram se misturando aos primeiros sorrisos e gritinhos dela. Seus cabelos foram tomando forma, seus olhos a cada dia mais graúdos e singelos, e suas primeiras sílabas, como um ato mais sólido de comunicação, foram: bebé. Bebé passou a ser para mim o som silábico mais lindo que os meus ouvidos puderam escutar, Bebé, que é uma tentativa de dizer Roberta, passou a ser o chamado mais próximo do divino que já pude receber. Bebé, que sou eu, passei a entender que eu não precisava de respostas, e sim de amor, eu só precisava de amor.