segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Todos sabem que sou poeta de rua, louca pela lua.

- Roberta Laíne.

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

O causo do meu eu perdido

Houve um dia em que eu me perdi de mim mesma, mesmo estando em meu quarto. Foi estranho, eu estava ali, parada, deitada em minha cama, quando dei por meu sumiço. Eu realmente não sabia dizer onde o meu outro eu estava, fiquei horas, dias e semanas a fio procurando-me incansavelmente. 
Achei um absurdo de minha parte, perder-me de mim, o auge do descuido!
O fato é que, eu não sabia, mas precisava, mesmo que vez ou outra, reparar-me. 
Então comecei uma busca incessante por mim, rememorei meus últimos passos, elenquei minhas últimas atitudes, e repensei meus milhares de últimos pensamentos. No entanto... Nada! Eu não achei nenhum rastro de mim... Onde diabos eu havia me metido? Onde será que eu estava? Por que eu não fazia ideia do meu paradeiro?
Passaram-se meses, e minha busca continuava irresoluta. 
Sentada em minha cama, comecei a folhear (sem muito ânimo) um livro que acabara de retirar das entranhas de minha velha cômoda, não sei como ele foi parar ali, não lembro de tê-lo deixado cair, no entanto, tampouco importa-me, estava irritada, pois começava a espirrar, o livro estava coberto de poeira, então comecei a sacudi-lo e a driblar algumas teias de aranha; o cheiro de passado banhou o meu quarto, quando, de repente, topei em uma velha passagem de ônibus, era de um trajeto que eu sempre fazia, o bilhete estava sendo utilizado como marcador. Página 98, havia um soneto e, no verso, uma anotação que dizia: 
“A dor se consolida lentamente nos olhos de um poeta, e, cai, por meio de lágrimas”. 
Parei, e fiquei martelando de onde eu havia retirado aquela frase, afinal, reconheci que a letra era minha. 
Nesse momento, uma onda quente e alaranjada de pensamentos rodearam meu corpo, senti uma leve ânsia de vomitar, passei a mão sobre um acúmulo de suor que se formava em minha testa, pisei com as mãos naquelas gotas de sal que saíam... 
Achei! Ou melhor, me achei! Eu estava ali, eu acabara de me reencontrar, aquelas palavras eram minhas, ou melhor, aquelas palavras era eu!          
Rapidamente retirei-me daquele livro e sorri dizendo: que esperteza minha! Eu havia me escondido ali, havia me abrigado no verso de uma folha... saí de um corpo deteriorado para fazer morada em um livro esquecido de baixo de minha velha cômoda... 
Limpei meu suor na blusa e refleti... No final das contas, perder-me não fora de todo ruim, passar um tempo sem mim foi importante para procurar-me, do contrário, eu jamais teria ido atrás de mim, jamais saberia o quanto eu fazia falta para mim mesma!
Apaguei a luz, deitei em minha cama, e abracei-me bem forte; sonhei que estava em uma praça, lendo esta história para um pequeno aglomerado de pessoas, as quais sonhavam com a lua, astros, estrelas e poesia...


Roberta Laíne.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Cacos... Cuidado! Não pise!
Você está vendo esses cacos aí no chão?
Cuidado... Não pise...
Eles são meus...
Eles sou eu...
Eles...
Você está vendo como eu estou?
Você está vendo como eu estou em pedaços?
Não toque...
Não adianta, você se machucará...
Você pode se cortar, então não toque...
Apenas olhe, apenas veja, apenas chore, mas não toque...
Outro dia uma moça correu para tentar juntá-los, antes que eu gritasse que não fizesse, já era tarde...
Ela já chorava compulsivamente cortada em algumas partes dos cacos...
Obviamente eu me estardalhacei ainda mais, foram cacos para tudo quanto é lado,
pedi perdão, chorei, senti, e lamentei... Eram cacos, eram os meus cacos que cortavam qualquer linha tênue que se aproximasse, qualquer fio de letra que tentasse me remendar ou reconstruir...
Nuvens cheias, sol laranja,
lua minguante, astros a dentro,
meus cacos reluziam,
Ali,
o único momento que parecia valer à pena estar em cacos,
era ali,
quando meus cacos refletiam na luz e pareciam estrelas...

- Roberta Laíne.


quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Ameno, eu vi com os meus próprios olhos! Ora, se não poesia por que toda essa agonia?
Sinto tantas saudades de te convidar para dançar, você não tinha muitas opções se não aceitar.
Então eu apagava a luz e corria para pôr nosso Cd favorito: Anavitória. 
Eu não sabia dançar outro Cd, só sabia dançar as canções do disco de Anavitória, por sorte, você nunca enjoo o Cd...
"Dá meu cabelo pra de nós tu encher" a frase entrava pelo teu sorriso e terminava em meu olhos... 
Para sempre? Sim, para sempre! 
Quanto tempo é para sempre?
Para sempre é tempo demais.
Demais, quanto?
Ora, demais! Demais tipo a poesia que você lê! 
Mas qual delas?
Os sonetos de Florbela...
Eu tenho tanto medo de altura quanto de "para sempre"... 
Mas não tenho medo do amor, do amor não. Nisso, um filme se passava em minha cabeça, e a música que saía dos meus olhos dizia "Juro não mais tentar te encontrar"
Ah! Tinha tanta poesia naquele lugar, tinha tanta poesia em você, em mim, em nós.
Para onde é que foi parar toda aquela poesia?
Eu gostava de chamar teu nome, pois quando pronunciava parecia que as letras batiam na parede e depois voltavam para minha boca, ah, como eu gostava!
Você era o amor da minha vida, você era amor e vida, você... 
Deixa para lá... 
Escuta, elas lançaram um novo Cd, é detestável não ouví-lo com você! Inclusive, já escolhi minha música favorita, provavelmente você iria amar, "Calendário", queria poder te convidar para dançá-la, 
"Se encontra
Se perde
E se vê..."
Você não imagina o tanto de poesia que estou guardando dentro de mim, meus olhos estão cheios de poesia, eu estou encharcada de poesia, 

"Nem telhado, nem sala de estar
Rodei tudo, não achei você..."

Desliguei o som antes da canção terminar, a última frase que ficou no ar agarrou o travesseiro, e se embrulhou no meu cobertor,

"A prece que você deixou não veio em minha direção".

Te amo.

- Roberta Laíne.

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Gosto de guardar carinhos, tu sabes que de abraço em abraço a gente vai virando casa, ninho, vezes até passarinho. 
Gosto de abraçar bem forte o lençol e lembrar sorrindo, deixando a claridade me chover de luz. 
Gosto de olhar para as nuvens e pensar em tudo o que eu ainda não pensei; penso, repenso, sorrio apagando o pensamento, aí volto a pensar novamente, me achando um Pierrot em excesso. 
Gosto de olhar para a lua e imaginar que São Jorge realmente está acenando para mim, com sua espada, sorrindo e dizendo: Avante, pequena poeta! 
Gosto de pensar que Dom Quixote está lá com ele, todo errante, mas todo cheio de coragem...
Coragem, gosto de coragem, gosto de imaginar que eu a tenho...
Gosto de exclamar em pensamento: ah! O que não me falta é coragem! 
E se acaso perguntarem quem sou, obviamente diria, sou duas palavras: poesia-nada.

- Roberta Laíne.