sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

[...]

— Vamos, Augusto, apresse-se, eu preciso ir ao hospital!

— Mas, mamãe, eu já lhe disse, isso não se resolve...

No hospital...

— Fale-me, doutor! O que é isso que vem de dentro do peito, faz meu corpo todo comprimir-se, dá-me calafrios e fortes pontadas na alma. Doutor, falta-me até o fôlego e tudo piora à noite ou com a chuva! Dê-me um remédio, por favor!

— Dona Rita, isto é saudade, e não se resolve com medicina. 

Roberta Laíne.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

"Assim como um gato não sabe que é um gato, eu não penso se estou ou não fazendo literatura; mas o trabalho vai sendo feito, sem pretensão". 

Em um café...

— Olá, meu bem! Sente-se... Obrigada por vir. Chamei-lhe com certa urgência, pois acabo de terminar a crônica que havia lhe falado, aquela que você tanto queria ler. Este da imagem é Raul, o personagem principal.

— Camila, este é Fernando Sabino!

— Sim, eu sei. É que eu estava produzindo algumas provas e me deparei com uma fotografia dele, foi daí minha inspiração, fiquei por minutos olhando-a, até ser transportada para o lugar em que ele estava e acaba que senti, senti tudo o que ela dizia... Apenas sente-se e escute, irei lê-la para você.

Parte 1

Era 19 de março de 1950, quando vi Raul pela primeira vez na Coffee and tea, minha cafeteria favorita. Raul estava sentado em uma das últimas mesas do local, em uma parte não tão luminosa, muito provavelmente não queria ser notado, afinal, todos que sentam naquela mesa estão fadados ao título da invisibilidade. Inclusive, por incontáveis vezes, já me pus a sentar naquele mesmo lugar, em dias absurdamente caóticos de minha vida, em que tudo o que eu mais queria era sumir. E sumia. Raul estava lendo um jornal, totalmente absorto nas palavras, mantinha as pernas cruzadas, balançando-as num movimento contínuo de cá para lá. Entre os dedos havia preso um cigarro, o qual tragava sem dar muita atenção ao movimento. Dificilmente iria notar a minha presença, que, de certo, era incômoda, pois meus olhos o observavam com certo vigor. Não sei o porquê de aquele homem ter chamado minha atenção, mas fiquei hipnotizada com sua figura ali, absorta, compenetrado na leitura daquele jornal. Anos de Coffee and tea e nunca havia sido tomada pela presença de ninguém. E sim, Raul era um homem bonito, mas sei que não foi isso o que me chamou a atenção, havia algum mistério fantástico naquele ser, não sei explicar, mas eu sentia algo diferente, intrigante, espiritual, algo mal resolvido, talvez fosse casado e vivesse um romance proibido; talvez tenha sido coautor de um crime bárbaro e nunca contribuiu para solucionar a coisa toda; ou talvez, e muito provável, seja tudo coisa da minha cabeça e, no final das contas, Raul não se passasse de uma pessoa normal, que trabalha 10 horas por dia, seu dinheiro dá apenas para pagar as contas, e estava fadado a morrer sem ter realizado metade dos seus sonhos. De qualquer forma, eu precisava descobrir o mistério que envolvia aquela figura enigmática, que passou a frequentar minha cafeteria favorita. 

***

No dia seguinte, no trabalho, comecei a datilografar uma pilha de documentos que meu chefe havia solicitado, porém, a imagem de Raul não saía de minha cabeça, acompanhada de perguntas sem respostas: Quem era aquele homem? Por que diabos eu estava interessada em saber ao seu respeito? Raul morava na cidade ou era apenas um viajante? Era solteiro ou casado? Tinha filhos? Quantos anos Raul tinha?

***

No mesmo dia, ao sair do trabalho, fui à Coffee and tea como de costume, só que agora eu não estava apenas em busca do melhor café da cidade, eu tinha comigo outro objetivo. Ao chegar lá, meus olhos percorreram toda a cafeteria à procura de Raul, passeando por todas as mesas, visualizando cada pessoa que ali estava. Contudo não o vi, meu mais novo mistério não estava lá, o que obviamente deixou-me frustrada. Enquanto tomava minha xícara de café, tamborilando os dedos no balcão, Raul se posicionou ao meu lado, pedindo um expresso meio amargo para a atendente. Naquele momento, meu corpo congelou, fui tomada por uma onda de ar frio, a qual me fez lembrar do último inverno severo que enfrentamos. Paralisada, eu podia ouvir as batidas descompassadas do meu coração. O mais interessante é que Raul nem ao menos olhou para mim, não direcionou-me sequer um mísero cumprimento, parecia que as pessoas ao seu redor não existiam, seu olhar era firme em direção alguma, altivo, um perfeito ditador. Ao pegar o expresso, encaminhou-se para a mesma mesa, sentou-se, cruzou as pernas, e abriu aquele maldito jornal, ficando ainda mais alheio as pessoas.

***

Passei a odiar Raul, todo aquela indiferença feriu algo dentro de mim, aquele homem-mistério não tinha direito algum de me ignorar daquela maneira.

***

Os dias se passaram e continuei a ver Raul na Coffee and tea, mas, agora, com o orgulho ferido, passei a não dar importância a sua presença. Enquanto servia meu expresso, Nina maneou a cabeça em direção a Raul, indagando-me se eu conhecia o recém-chegado que veio morar na cidade. Olhei fingindo desinteresse e balancei a cabeça em sinal de negação, porém sabia que era uma ótima oportunidade para saber algo sobre ele, afinal, Nina adorava coletar histórias para depois repassá-las com grande facilidade. Então perguntei a ela o que se sabia a seu respeito, ao que Nina respondeu um “nada”, sem grande entusiasmo. Bem, ao menos agora eu sabia que Raul não era um mistério apenas para mim, pois já havia outras pessoas tentando coletar informações sobre sua vida. Segundos depois, Nina arregala os olhos, empalidecendo a face, Raul estava posicionado ao seu lado, com um olhar incógnito lançado em minha direção: “Posso sentar-me?”, indagou-me de modo firme e altivo, enquanto Nina se retirava assustada. Meu coração respondeu primeiro, saltando o peito. Em seguida fiquei sem voz, então tive que responde-lo fazendo menção com a cabeça. Raul sentou-se de frente para mim e eu senti pela segunda vez aquela onda de ar frio, como se, naquele momento, eu tivesse sido teletransportada para o ártico: “Você acha que eu não percebi seus olhares direcionados a mim?”. Fiquei tonta, quis vomitar, juro que desejei que um carro desgovernado invadisse a Coffee and tea naquele instante e causasse um grande estrago em sua estrutura física. Inclusive, tenho certeza que se passasse por cima de mim muito provavelmente eu não me sentiria tão esmagada como me sentia naquele momento: Desculpe-me, deve haver algum engano. Foi o que eu disse antes de fugir.

***

“Desculpe-me, deve haver algum engano”. Enquanto andava a passos largos, distanciando-me da cafeteria, fiquei repetindo minha gloriosa frase patética e questionando-me como pude ser tão burra e, ao mesmo tempo, covarde. Por que diabos eu levantei daquela maldita cadeira, deixando Raul sozinho, após soltar minha mais nova e medíocre resolução!?. “Desculpe-me, deve haver algum engano”, ora engano... não havia engano algum! E agora minha cabeça estava a ponto de explodir, com o turbilhão de pensamentos que começaram a bombardeá-la, como se eu estivesse no cume da Primeira Guerra Mundial.

***

Em casa, corri para o meu quarto e me pus debaixo das cobertas, buscando proteger-me do meu próprio corpo, que ainda estava em estado de alerta. A sensação era de como se alguém tivesse tentado invadi-lo e, após a tentativa, uma porção de luzes vermelhas houvesse disparado, sinalizando a violação. Fechei os olhos e uma nova avalanche de pensamentos aleatórios inundaram a minha mente. Lembrei de Jack, meu cachorro que havia morrido envenenado há 10 anos. Lembrei do meu primeiro beijo, na escola, com um garoto franzino, que tinha cabelos castanhos sujos e desgrenhados, e o quão foi horrível, pois não se assemelhou em absolutamente nada de como eu imaginava que seria. Lembrei de tia Dora, que morreu sem conseguir realizar seu sonho de ir a Paris e ser fotografada apontando para a Torre Eiffel.

***

No dia seguinte, fui ao trabalho com uma sensação horrível de ressaca, estava pesada e zonza, como se tivesse bebido uma garrafa de vinho sozinha na noite anterior. Enquanto datilografava o restante da pilha de documentos que estava sobre a minha mesa, meu chefe saiu de sua sala e convidou-me a acompanhá-lo, para que eu pudesse conhecer o mais novo membro e sócio da empresa. Um convite pavoroso por sinal, doutor Carlos não poderia ter escolhido um dia pior para eu dar as boas-vindas a alguém. Eu estava simplesmente destruída e em péssimas condições, meu semblante exalava minha falsa ressaca, meu corpo parecia mórbido, como se eu tivesse acabado de sair de um clássico filme de terror: “Apresento-lhe Raul, nosso mais novo sócio!”. Dessa vez não consegui me segurar, uma onda gigante de ar frio percorreu todo o meu corpo, forçando-me a correr até a lixeira e vomitar a falsa bebida da noite anterior. Naquele instante, almejei, mais do que nunca, estar enterrada a sete palmos sob a terra, imóvel, imperturbável, descansando em paz. Após recuperar-me, vi que doutor Carlos estava confuso, sem entender o que havia acontecido comigo, enquanto Raul permanecia austero. Havia naquele homem um muro intransponível, uma barreira inviolável em suas expressões. Se estávamos em uma guerra, definitivamente Raul havia triunfado. Pedi perdão aos cavalheiros e disse que havia passado mal na noite anterior, muito provavelmente por conta de algo que havia comido. Doutor Carlos mostrou-se preocupado e questionou-me se não era melhor eu voltar para casa para tirar o dia de folga, ao que recusei, garantindo-lhe que já estava bem, só precisava de uns minutos para me recompor.

***

Enquanto lavava o meu rosto no banheiro, percebi que agora sabia duas informações sobre Raul:

1.      Ele era advogado.

2.      Eu seria subordinada a ele.

Continua...

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Meu bem, na tv está tocando Arctic Monkeys, e eu sei que i wanna be yours, olhando nos meus olhos, com teus lábios vermelhos, e um vestido preto de cetim. Da janela do meu quarto, ouço as gotas da chuva escorrer, como a seiva que desliza entre as tuas pernas

Meu bem, eu sei que i wanna be yours, por cima de mim, com força, uivando como um lobo em chamas, em fogo, i wanna be yours com tuas pernas abertas, escancaradas, para receber a poesia que sai de minha língua, em todos os idiomas, i wanna be yours 

- Roberta Laíne.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Meu Deus, por que eu ainda não te esqueci?

- Roberta Laíne. 

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

Percebi que se tornar uma pessoa conformada é muito perigoso, pois leva consigo todos os nossos sonhos...

- Roberta Laíne. 

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

Você não precisa me compreender

Sei que as pessoas acham que sou ruim por parar de falar com elas e “simplesmente” sumir, sem nunca procurá-las novamente. Queria que fosse tão simples quanto parece, mas não é. Inclusive, eu nunca fiz isso por algum tipo de maldade nutrida em meu peito, egocentrismo ou o que quer que seja. E eu compreendo o fato de as pessoas não entenderem a minha maneira de conduzir a vida, pois sei que não é uma tarefa fácil entender o outro, às vezes eu também não me compreendo, mas sei que não posso desistir de mim. E, por “me conhecer”, sei que a atitude drástica que tomo é nutrida por decepções e traumas que carrego, os quais fazem meu corpo entrar no modo defesa, no meu modo defesa. Mas a verdade é que eu não odeio absolutamente ninguém, não odeio as pessoas que passaram em minha vida e, por algum motivo, fútil ou grave, pararam de falar comigo. No final das contas talvez eu seja uma das que mais sofra, por escolher passar por tudo sozinha, sem dividir minha dor, sem expô-la no rosto, a não ser aqui, nas palavras. Tomara que este velho blog me suporte até o último dia de minha vida, porque é para cá que eu corro, todas às vezes que os meus monstros me assombram, em plena luz do dia. 

 - Roberta Laíne.