domingo, 8 de maio de 2022

A recompensa...

Depois da avalanche que passei no dia anterior, ontem foi um dia mais ameno, com menos crises de ansiedade e pânico, menos pensamentos intrusivos, e com toda aquela agonia vibrando em uma frequência mais baixa, sem me perturbar tanto. Então, pela parte da tarde, resolvi ir à missa com a mamãe, inclusive, fui movida por três motivos: 1. sempre sinto a necessidade de ir à igreja. 2. porque gosto de agradá-la e sei que ela fica muito feliz quando vou. 3. hoje é dia das mães e senti a necessidade de acompanhá-la e, por meio de orações, agradecer por sua vida. No final das contas gostei muito de ter ido à missa, fez bem à minha alma inquieta. Um dos primeiros sinais de recompensa por ter aguentado o dia anterior. Bem, há alguns dias, eu havia prometido à Ivane que iria tentar dormir em sua casa, no sábado, para assistirmos a algum filme, comermos, e dormirmos juntas. Assim, logo pela manhã, havia dito à mamãe que não iria dormir em casa, pois sairia e só voltaria na manhã do dia seguinte, nesse momento me surpreendi muito com a sua resposta, pois, ao invés de ficar chateada e/ou fazer algum tipo de comentário do qual ela achasse que me atingiria, mamãe simplesmente disse que seria bom, pois iria aproveitar para lavar as coisas da minha cama. Confesso que fiquei bem espantada com a sua resposta, e mais surpresa ainda por saber que ela não falou aquilo forçado, ela simplesmente disse, e ficou tranquila com aquilo. Um dos segundos sinais de recompensa por ter aguentado o dia anterior. À noite, já na casa de Ivane, eu estava serena; pedimos um lanche que eu queria que ela experimentasse e, após comermos, fomos olhar a lua; ficamos de mãos dadas olhando-a, enquanto comíamos fini e eu bebia coca-cola, ouvindo algumas músicas que selecionei; eu estava em paz, estava terna e amena. Um dos terceiros sinais de recompensa por ter aguentado o dia anterior. Eu não sabia que poderia ser recompensada pelo dia anterior de merda que tive, eu não lembrava como era almejar a vida, pois sem a depressão, o pânico e a ansiedade, meu corpo e minha mente conseguiam conversar, sem o meu coração fazendo barulhos assombrosos, era possível viver e gostar de estar viva, era possível continuar e ter a consciência disso foi um dos quartos sinais de recompensa por ter aguentado o dia anterior.

- Roberta Laíne.

sexta-feira, 6 de maio de 2022

Essa semana tem sido preenchida de dias muito difíceis para mim. Eu estou cansada, estou muito cansada. Na verdade, estou exausta! Exausta de adoecer, de ir ao hospital, e de ser a fraca, desde criança. Um dos meus maiores cansaços é o dos meus remédios e das minhas idas ao hospital. Quando você luta contra a depressão e ansiedade há 10 anos, chega um momento em que você fica exausta de tudo, de absolutamente tudo e todos, da sua família, de médicos, de psiquiatras, de terapeutas, diagnósticos, enfermeiros, exames, remédios, clínicas, hospitais. Você começa a ir a esses lugares se sentindo uma fracassada, um lixo, um barco cheio de buracos. Inclusive, é assim que me sinto em grande parte da minha vida, um barco cheia de buracos, que está enchendo de água a cada dia que passa, naufragando dia após dia. 

Eu estou mudando muito nestes últimos tempos, mudando para pior. Estou a cada dia mais irritadiça, estressada, ansiosa, oscilando de humor com muita facilidade e, sobretudo, deixando a ideia de suicídio entrar em minha mente como uma real possibilidade, e isso me assusta, pois eu nunca pensei em suicídio, mesmo depois de uma grande amiga ter se matado na adolescência; mesmo depois de minha namorada ter tirado a própria vida na idade adulta; mesmo depois de assistir a inúmeros outros suicídios; eu nunca quis, nunca me imaginei, porém, ultimamente, as coisas têm mudado muito em minha cabeça e tudo tem ficado confuso e desorganizado. É engraçado, nessas horas eu nunca consigo pensar em ninguém, são momentos de puro egoísmo, em que eu só consigo pensar em minha dor e não meço a dos outros, a dos que iriam ficar. Logo em seguida, minha visão fica turva, tudo fica lento, e a morte com seu hálito metálico começa a baforar em meus ouvidos convites tentadores, é incrível, é incrível como tenho ficado inebriada e cega. Eu realmente não sei o que está acontecendo comigo dessa vez, não sei o que está conseguindo me atordoar tanto, não sei por que estou regredindo absurdamente e numa velocidade espantosa, logo agora que tenho trabalho, tenho a Maria, tenho namorada, e voltei desde o final do ano passado à terapia, mas nada está surtindo efeito, eu não sei o que falta. O que falta? Que vazio é esse? Ele tem nome? Por que eu estou tão exausta? Por que está tudo tão escuro? Quem esqueceu de ligar as luzes? Dá para ligá-las novamente?. Em seu leito de morte Goethe disse: “Luz, mais luz!” e agora eu imploro: Luz, mais luz, mais luz, por favor!

- Roberta Laíne.