sábado, 10 de março de 2018

Escrevo porque vivo engasgada, é um nó na garganta, uma falta de ar, uma ânsia de vomitar palavras, parece-me que a todo momento eu preciso dizer, como uma espécie de prece contínua e fiel, parece-me uma espécie de fotossíntese. Aí, quando eu escrevo, quando eu enfim vomito, sinto aquele alívio de quem escapou da morte, como se eu me rasgasse e me costurasse. Parece-me que quando enfim despejo as palavras, o meu corpo se aquieta em uma prece derradeira, como se eu pudesse morrer tão tranquila que nem sentiria a ceifada da morte! É aí que me sinto viva, é aí que sinto uma paz danada de morrer. Parece-me mesmo que escrever é mais morte do que vida.

-Roberta Laíne.