quinta-feira, 30 de abril de 2020

Hoje sou eu quem olho para os pássaros e sinto inveja, que gostosa é a palavra l i b e r d a d e, escorrega em minha boca e se afoga em minha vontade. Mas que tamanho de para sempre, do cumprimento do mar, com a extensão do universo, e altura de minha saudade! 
Liberdade deveria ter o teu nome, meu bem.

- Roberta Laíne. 

terça-feira, 28 de abril de 2020

Eu vim para cá, mas não tenho certeza se quero mesmo escrever. Estava me sentindo um pouco triste e resolvi vir até mim, a que nunca me abandonou. Mas não sei exatamente o que escrever, não vim com nada pronto, não surgiu nenhuma ideia genial ou extraordinária na minha cabeça. Eu apenas vim, e acho que todos nós já nos sentimos assim, uns com mais frequência outros com menos, mas todos já nos sentimos assim, sem saber bem o que fazer. Eu queria fazer algo por mim, mas não sei muito bem por onde começar, eu estou cheia de buracos, sabe, aos frangalhos, parece que todo lugar que há em mim está dolorido, ou há de doer, é como uma rua cheia de buracos, você tem que ficar desviando, e é cansativo chegar até o outro lado. Mas o que há do outro lado? E se não houver outro lado? Uma ideia genial acaba de assaltar-me, e se o outro lado for um buraco imenso? Uma onda cinza me invade, o dia está acabando, e sinto o cheiro de saudade, sinto que mais uma vez estou escrevendo coisas absurdas e desconexas, em harmonia com a mente, mas em desconexão com a realidade. A noite está caindo lá fora e dentro de mim as palavras atravessam o quarto e ganham força até tua casa, entra pelos teus olhos e te afrouxa a alma. Se eu fosse minha, provavelmente seria tua, mas como não sou, então eu te ofereço a porta de saída, longe de mim, perto da r(l)ua. E... Por mais que não haja um buraco imenso do outro lado, antes do final, há uma longa jornada, na lama, onde eu sempre estive.

 Com carinho,

- Roberta Laíne.

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Poesia molhada.
Cabelos longos, olhos apertados, corpo sinuoso. Você tem cara de saudade, tem cheiro de maçã verde.

Poesia molhada.
De fim de tarde, de resto de água, de chuva branca como diz a vovó. Só me diga, você é chuva ou é lágrima?

Poesia molhada.
Água na sacada, telha com gosto de barro, barro com gosto de Eva, poesia feita na calçada.

Poesia molhada.
Pássaro encharcado, palmeiras paradas, beija-flor foi embora, sabiá se escondeu, o homem branco se encolheu, tudo por conta da poesia molhada.

Poesia molhada, você cai do ceu ou da minha
alma?

Poemas (fora do) Quarto.

- Roberta Laíne.

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Eu nunca vou escrever sobre você.

Será que o universo sabe que... É que ele chorou a tarde inteira, não parou de chover, ainda goteja, ainda baixinho, ainda tristonho... Eu sinto muito.

- Roberta Laíne.

terça-feira, 21 de abril de 2020

Eu tenho mais algumas coisas para falar sobre um texto. Um texto é, pois, uma necessidade, é um argumento, opinião, é o nosso posicionamento moral, ético, político, cultural. Um texto é a tentativa de ser eterno, pra sempre, é uma bomba que explode silenciosamente em cima da mesa, dentro de um livro, em um bilhete, nas páginas do jornal, nas cores de uma revista. Um texto é uma verdade, inventada ou não, um texto é uma crença de que tudo é real, inteiramente real. É, pois, uma explosão de átomos se expandido no universo...

- Roberta Laíne.

sábado, 11 de abril de 2020

Um texto é uma consequência. E eu não tenho mais absolutamente nada para falar sobre isso.

- Roberta Laíne.

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Silêncio. 
Nós estamos em silêncio.
Esperamos e tememos os barulhos de uma Terceira Guerra Mundial, mas dessa vez foi diferente... Dessa vez ela veio muda, invisível, sorrateira, envolta de um silêncio ensurdecedor. 
Fechado. Fechado. Fechado. Aberto somente das 08 às 14 horas. Fechado. Fechado. Estamos fechados. 
E foi assim que tudo começou... nos fechamos.
Viver era difícil, mas morrer se tornou ainda pior... Agora é mais solitário, sem cânticos fúnebres, sem lágrimas de despedidas, sem poder se debruçar em desespero sobre o corpo enevoado. Fechado.
O vírus afeta a economia, a educação, a saúde, mas principalmente o nosso afeto, a.fé.to. A rua está vazia, mas não há derramamento de sangue. A igreja está vazia, mas não é por falta de padre. O domingo na praça está vazio, mas não é por falta de crianças. O vírus inquiriu: fechado, fechado, fechado. 
A dispensa do pobre está vazia, e a dos ricos recheada, mas até quando? O vírus responde? Até quando seremos egoístas? Até quando vamos perpetuar essa raça vazia, pobre de poesia, pobre de fé em si e no outro, pobre de vida. Até quando? 
Uma folha não cai se não for pela vontade de... 
Ainda tenho esperança, mesmo que o vírus tenha fechado as portas, ainda acredito que seremos melhores... na fé, na doação, e no caráter. Esse vírus que a tudo tem fechado deixou o meu coração aberto em prosa, em verso, em poemas de quarto. 

- Roberta Laíne.