sábado, 25 de dezembro de 2021

Eu preciso continuar a escrever sobre ela, sobre nós, pois estou assustada. Em 29 anos de existência, nunca havia transado com alguém que houvesse me marcado tanto. Tudo o que ela faz, a maneira como ela faz, tudo o que ela diz, a maneira como ela diz, sem medo, sem pudor, sem gramática normativa. Eu estou completamente entregue, e isso me assusta, porém não consigo parar. Na verdade, eu quero mais, eu quero muito mais, estou viciada em querer descobri-la, e, assim, talvez descobrir-me. Eu quero dançar na chuva dos seus medos e sonhos e chegar em casa encharcada. Eu quero invadi-la, decifrá-la, esmiuçá-la até achar o que tanto procuro que ainda não sei. Procuro às escuras, procuro violentamente sem saber o quê, o por quê, nem pra quê. Procuro movida por extremo desejo, procuro em tudo quanto é parte sua, em seus olhos, na sua boca, nas suas pernas arqueadas, em seu sexo sem fim, procuro sem dó nem piedade. Procuro com os olhos, com os dedos e mãos, com a boca... Eu nunca fodi com alguém assim, com tanta vontade, desejo, com tanta liberdade. Há tanta poesia-putaria quando fodemos que eu não sei muito bem como pôr em palavras, pois elas não dão conta tamanha a magnitude do que é ela, do que sou eu, e, no fim, do que somos nós.

- Roberta Laíne.  

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Como quando fodemos e fazemos amor ao mesmo tempo...

Tentei começar esse texto de várias maneiras, mas apaguei uma porção significativa de começos, e aqui estou tentando outra vez, mesmo que o que eu tenha para dizer seja inenarrável, mesmo que o que eu tenha para proferir perpasse entre o indizível e ao que necessita da presença de um zilhão de palavras, esgotando o dicionário. Transamos. Não, não transamos. Fodemos. Sim, fodemos pra cacete! E eu descobri um personagem em mim que jamais havia atuado, pois nunca havia fodido com alguém pela perspectiva violenta em que fodemos. E isso me assusta absurdamente. Digo, a maneira como manejamos a coisa toda, como me comportei sexualmente enquanto o corpo dela produzia perguntas e o meu respostas, foi surpreendentemente surreal. Ela sabia foder, ela soube foder. Ela soube dizer tudo o que precisava ser dito, e o que eu não sabia dizer, ela soube me levar até o caminho da fala, do sussurro, das palavras de baixo calão que vibraram em alta frequência. Eu soube foder. Eu soube fodê-la. Eu soube fazer tudo o que precisava ser feito, e quando eu não sabia, ela soube puxar a minha mão e levá-la violentamente até o seu rosto, e pedir que eu a machucasse sem dor, sem medo, como quando jogamos enfurecidamente um copo na parede e o vidro estardalhaça, emanando um som desesperadoramente bonito, limpo, como nos filmes. Eu não sabia que eu sabia ser outra, eu não sabia que eu sabia foder gostoso e fazê-la puta. E fazê-la molhar os meus dedos, a minha boca, e matar a minha sede. E ela também não sabia. Soubemos na hora. Soubemos enquanto fodíamos. Soubemos enquanto ela se abria para mim, e eu escancarava as suas pernas, acessando o seu corpo, com meus dedos, com minha língua, com minha alma. Gozar foi insignificante, gozar foi a parte menos abrasadora, gozar foi apenas consequência, a causa foi muita mais violenta, a causa foi muito mais gostosa, a causa fez eu enforcá-la e fodê-la com força, com muita força, com tanta força que poderíamos mover a terra, inclinando-a para o infinito, fazendo o universo expandir mais rapidamente, após atravessarmos a atmosfera e nos perdermos entre a luz das estrelas, recriando o universo.

Com carinho,

- Roberta Laíne.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Ora, não precisava se matar...

Romeu e Julieta não tiveram tempo para se conhecerem, pois, se tivessem, talvez nem juntos estariam. Viver com o outro requer muita paciência e obstinação. Estar de frente com as faltas e falhas de outra pessoa e até mesmo com as nossas, pode ser exaustivo e, por isso, e por mais um milhão de outros motivos, está tudo bem ir embora. Teobaldo, primo de Julieta, não precisava ter matado Mercúcio, amigo de Romeu. E Romeu, por sua vez, não precisava ter matado Teobaldo. Ninguém precisava ter matado ninguém, muito menos terem se matado, se Romeu e Julieta tivessem tempo de se conhecerem. Para a neurociência, a paixão é um estado de demência temporária, desse modo, nossas atitudes, no momento em que estamos apaixonados, perdem filtros importantes para que possamos racionalizar as coisas. Lembro-me que a primeira vez que me apaixonei foi assim, foi como Romeu e Julieta, pois, ao meu ver, não havia razão de estar em um mundo no qual a pessoa que eu amava não estivesse (comigo), só que, antes de alguém morrer e ninguém morreu, felizmente, o tempo passou e eu comecei a enxergar claramente quem era a pessoa que eu dizia amar unicamente, e tenho quase certeza que se, Julieta tivesse tempo para conhecer Romeu (ou vice-versa) ela iria era querer matá-lo ao invés de se matar. Ultimamente, observo muitos casais Romeu e Julieta, e fico me questionamento a respeito da atemporalidade da obra. É engraçado como conceito de amor líquido de Bauman se cruza aqui com o exagero de Shakespeare e o resultado é esse boom de relacionamentos intensamente vazios ou vaziamente intensos. Sei que soa extremamente paradoxal, mas sinto que há, nesses relacionamentos, uma real intensidade, acompanhada de um enorme vazio. Enfim, eu só escrevi esse texto para avisar ao Romeu e a Julieta, ou a qualquer Maria, João ou Roberta, que não precisa se matar não, no final das contas talvez o Romeu fosse um escroto, e a Julieta? A julieta mais ainda...

- Roberta Laíne.