quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Ora, não precisava se matar...

Romeu e Julieta não tiveram tempo para se conhecerem, pois, se tivessem, talvez nem juntos estariam. Viver com o outro requer muita paciência e obstinação. Estar de frente com as faltas e falhas de outra pessoa e até mesmo com as nossas, pode ser exaustivo e, por isso, e por mais um milhão de outros motivos, está tudo bem ir embora. Teobaldo, primo de Julieta, não precisava ter matado Mercúcio, amigo de Romeu. E Romeu, por sua vez, não precisava ter matado Teobaldo. Ninguém precisava ter matado ninguém, muito menos terem se matado, se Romeu e Julieta tivessem tempo de se conhecerem. Para a neurociência, a paixão é um estado de demência temporária, desse modo, nossas atitudes, no momento em que estamos apaixonados, perdem filtros importantes para que possamos racionalizar as coisas. Lembro-me que a primeira vez que me apaixonei foi assim, foi como Romeu e Julieta, pois, ao meu ver, não havia razão de estar em um mundo no qual a pessoa que eu amava não estivesse (comigo), só que, antes de alguém morrer e ninguém morreu, felizmente, o tempo passou e eu comecei a enxergar claramente quem era a pessoa que eu dizia amar unicamente, e tenho quase certeza que se, Julieta tivesse tempo para conhecer Romeu (ou vice-versa) ela iria era querer matá-lo ao invés de se matar. Ultimamente, observo muitos casais Romeu e Julieta, e fico me questionamento a respeito da atemporalidade da obra. É engraçado como conceito de amor líquido de Bauman se cruza aqui com o exagero de Shakespeare e o resultado é esse boom de relacionamentos intensamente vazios ou vaziamente intensos. Sei que soa extremamente paradoxal, mas sinto que há, nesses relacionamentos, uma real intensidade, acompanhada de um enorme vazio. Enfim, eu só escrevi esse texto para avisar ao Romeu e a Julieta, ou a qualquer Maria, João ou Roberta, que não precisa se matar não, no final das contas talvez o Romeu fosse um escroto, e a Julieta? A julieta mais ainda...

- Roberta Laíne.

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