domingo, 27 de janeiro de 2019

Olhos no teto, cabeça ao chão, mãos nas têmporas: o que diabos eu posso fazer pelo mundo? 
A gente não entende a sutil pergunta da vida, não temos essa capacidade, por simples que possa ser a interrogativa, a gente não entende, porque se entendêssemos a pergunta, estaríamos a meio passo da resposta... O ser humano não sabe lidar com respostas, prova disso é nossa insistente existência miserável. 
O que diabos eu posso fazer pelo mundo? 
A gente peca e depois vai à missa pedir perdão. Esquecido o inferno, a gente peca de novo e volta à missa pra ser perdoado novamente. Doar dízimo à paróquia não adianta. Cuidar dos desafortunados também não, porque esquecido o calor do inferno a gente volta e peca de novo.
Olhos vítreos num quadro que resguarda meu diploma, volta o questionamento: o que diabos eu posso fazer pelo mundo? 
Por que tudo o que eu significo está preso a um quadro 20x13 cm? De que diabos me serve isso, se, agora, centenas de pessoas estão fechando os olhos e partindo para sempre e de nada sei ou posso saber.
Meus olhos se encheram de lágrimas, virei para o lado e o alarme do meu celular tocava com um lembrete na tela: ir ao dentista.
Olhei para as horas e pedi tempo ao mundo, pedi tempo por ter perdido tempo, pedi tempo porque neguei tempo. Pedi tempo porque fui corrupta comigo mesma e nunca me dei tempo.
Enxuguei as lágrimas que escorriam e me levantei em busca do meu caderno para tirar uma folha e deixar um recado para mamãe. Escrevi: Mãe, saí pois precisava fazer a única coisa que eu poderia fazer pelo mundo: ir ao dentista. Dê-me tempo.

Roberta Laíne.

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