quarta-feira, 16 de março de 2011

Os pés que suplicavam a morte


Encontro-me caminhando, gradativamente caminhando, pisando em amoladas pedras que já perfuraram a epiderme e agora avançam para a derme de meus pés, estes já despidos e amedrontados, pés de quem nasceu na desilusão e tende a morrer na tristeza, pés que rastejam paulatinamente e suplicam uma saída, sair da vida. Vivo em uma árdua caminhada a caminho do nada, pois não posso regredir para o início, foi de lá que saí demasiadamente frustrado, nem almejo mais ir para o futuro, pois uma voz grave e áspera soou em meus ouvidos que no futuro não existirão mais flores e muito menos amores, logo estou preso ao presente, sou cativo dele e todas as noites sou açoitado sem nem ao menos dispor o direito de chorar em uma fétida senzala, e agora para onde irei? Se não tenho mais início, meu meio é meu desespero e meu fim me promete lágrimas e tristezas. A única coisa que estou convicto é a incessante dor de meus pés e os batimentos de meu coração, que há muito vem emitindo um barulho ensurdecedor por detrás de meu peito, cambaleando minh' alma, antes intacta, hoje atordoada. Desesperadamente só me resta esperar, esperar que a morte me convide para adentrar em seu leito desconhecido, e enfim descansar meus calejados e já desfigurados pés. 

Roberta Laíne.

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