quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Passei tanto tempo da minha vida só - tanto tempo tendo que lidar com a solidão, que, hoje em dia não sei mais ser dois, plural, conjunto, coletiva. Se por exemplo tu fores embora e me deixar em algum lugar, provavelmente eu ainda esteja lá quando voltares, provavelmente eu esteja encolhida em algum canto, para não ocupar muito espaço, não gosto de incomodar. No meu quarto quase nada modificou, sou muito parecida com esses móveis que quase nunca saem do lugar, e, quando saem, se rastejam por uma distância mínima, para desabarem quase no mesmo canto, assim também sou. Algumas, a maioria, quase todas as pessoas, mudam, mudam de endereço, de corte de cabelo, de roupa, de mania, de grupo, de ciclo, mas eu continuo lá, imóvel, velha, com o mesmo endereço, o mesmo corte de cabelo, as mesmas manias, sem grupo, sem ciclo, com um resto desarrumado de vida. Sem perfume, sem batom, sem maquiagem. Às vezes, acho que sou mendiga do meu próprio corpo, noutras vezes, me olho no espelho e não reconheço o reflexo que vejo, parece uma coisa abstrata, sem cor, sem forma, sem nada, parece tão pouco que chego a parecer nada, e nada por nada, não sou, acabou, aqui, em mim, nada enfim.
- roberta laíne.

2 comentários:

  1. Mas uma coisa é certa Roberta, só quem é ou quem foi sozinho é que consegue fazer das palavras, arte :) alegre-se, tudo tem o lado bom e o lado mau!

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  2. Rs muito obrigada pelas palavras, eu basicamente sou bastante criticada devido ser assim, mas não me importo, as pessoas que me criticam por eu não mudar, ser só, não tomar algumas atitudes são geralmente pessoas que não me entendem e gentilmente às pessoas que não me entendem eu só tenho a desejar distância. Obrigada por mais uma vez estar por aqui, grande abraço :)

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