quinta-feira, 12 de março de 2020

O livro dela, que é do Bukowski

Nós brigamos e prometemos nunca mais ficar uma com a outra, isso nunca tinha acontecido e agora vou ter que terminar a merda do livro que ela me emprestou, é que o livro é do Bukowski, e o título é a minha cara. Nós nunca fomos nada, sempre vivemos no "se", "se" a gente se encontrar, "se" eu for para aquela festa", "se" der, "se" eu lembrar. Eu não a amo, ela também não sente coisa importante por mim, mas eu também não desgosto, não consigo olhar para ela e não sentir nada, há um magnetismo que está fora do meu entendimento e controle que diz: fique próxima a ela. A gente tem uma conexão tipo Gogh e o amarelo, tipo Dalí e os meus sonhos mais loucos, ou tipo Bukowski e a solidão. Mas, que fique claro, eu não a amo, só nos dávamos bem com o lance do olhar, toda vez que nos olhávamos sabíamos pôr o universo de cabeça para baixo... Engraçado, nunca nos tocamos, mas conheço por inteiro o corpo dela, sei como beijá-la, como abraçá-la, e como olhá-la, como se a vida fosse um dia de sábado ensolarado e estivéssemos indo à praia. Eu não sei de muita coisa sobre a vida, e não entendo muito sobre as pessoas, mas sei que ela era como ir à praia, num dia potencialmente ensolarado.

  A verdade é que nunca entendi nossa conexão, somos duas pessoas totalmente diferentes, mas que compartilham a mesma inquietude... Solidão, independentemente de com quem estejamos, somos as pessoas mais solitárias do universo. Só que quando eu olhava para ela eu via um feixe de luz vindo diretamente de outro planeta, talvez ela fosse a lua e eu uma astronauta perdida no universo, tentando encontrar a terra, guiada por seus olhos que eram luz.

Com carinho,

- Roberta Laíne.

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