terça-feira, 4 de maio de 2021

Eu, tu, nós.

Observação:

Nem sempre costumo achar que quando uma pessoa sai da nossa vida foi "providência divina" ou "livramento", como dizemos de praxe. Na verdade, eu acho que estamos acostumados demais a sempre atribuir a responsabilidade das coisas que nos acontecem à Deus, ao destino, ou ao que quer que acreditamos, e esquecemos ou descartamos a possibilidade de, na verdade, o mal está em nós mesmos, na gente. É difícil de aceitar, mas, às vezes, as pessoas saem da nossa vida por culpa inteiramente nossa, e sei que é doloroso ler isso, mas Deus, o destino ou a própria pessoa nada tem a ver com as rupturas que nos acontecem. Não percebemos pois não aceitamos que a coisa toda está em nós, nas nossas atitudes sorrateiras e confusas, no nosso egoísmo velado de silêncio, na nossa abstenção de responsabilidade para com o outro, na nossa covardia em ser. Muito pelo contrário, achamos sempre que as nossas atitudes são as mais bem intencionadas, que estamos cobertos de razões, que somos um poço fundo de benevolência e que as pessoas não param para nos compreender. Somos egoístas demais para achar que a culpa é nossa ou que o mal está aqui, em nós, em nossas atitudes, por mais não intencionais que sejam. A gente sempre tá na ilha, porque sair dela é perigoso, e somos covardes demais, jamais admitiríamos o quão perversos somos, no barulho dos nossos pensamentos, na nossa mania de sempre achar que estamos no centro de tudo e que o sol que gira em torno da gente, no nosso discurso patético de que "Eu posso até ter os meus defeitos, mas pelo menos eu não sou como você". A gente compara imperfeições e se põe no topo da lista, porque ficar em último lugar é inaceitável, é incongruente para com os nossos cálculos pateticamente humanos, ordinariamente adulterados, e culturalmente pecaminosos. Inclusive, esse texto, veladamente, é uma tentativa egoísta em mostrar que a minha opinião é melhor que a sua.

Com carinho,

- Roberta Laíne.

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