quinta-feira, 29 de abril de 2021

"Quando chegou carta, abri. Quando tocou Prince, dancei. Quando o olho brilhou, entendi. Quando criei asas, voei."

Às vezes mamãe diz umas coisas que, aos meus ouvidos, soa tão poético. No início da semana, por exemplo, ela disse a mim que a Lua Rosa havia invadido o seu quarto, às quatro da manhã. Eu achei isso a coisa mais linda do mundo, sorri, e imaginei: nem Camões diria algo assim. Hoje, em uma ligação, enquanto ela conversava ao telefone, soltou a seguinte frase: "não vai chover não, minha filha! Se tem arco-íris não chove, porque ele bebe toda a água." Mais uma vez sorri em meu quarto e pensei: dessa vez nem Cecília, nem Cecília Meireles diria algo assim. Lembrei de ontem, quando ela foi até a porta de casa para vê como a lua estava, o vizinho se aproximou de mamãe e perguntou: "O que a senhora procura?", então ela virou e disse: "Nada, é só que a lua hoje está chorosa...". Fiquei sorrindo e perguntando se mamãe sabe que é poeta, e, ao mesmo tempo, desejando que não, que ela nunca descubra que é a minha poetisa favorita, pois talvez assim eu aproveite mais de suas composições avulsas e, deixe armazenado em minha alma, suas frases singelas, mais sensíveis que Caio, mais exageradas que Florbela.

Com carinho,

- Roberta Laíne. 

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