sexta-feira, 15 de maio de 2020

Um bilhete a mim própria.

Não sei escrever sobre coisas felizes, tampouco sei falar bem de mim própria, mas esse texto não é triste, e não falarei mal a meu respeito. Pela primeira vez, há muito tempo, eu não estraguei as coisas. Estou acostumada a estragar os meus relacionamentos e observar a decomposição das coisas, ajudando ainda mais com que elas se dissipem para bem longe. Eu sempre mando as pessoas para um lugar distante de onde eu esteja, de mim, e deixo com que os meus medos me dominem, acabando sempre por deixar minhas paranoias engolir as minhas relações. Por um período de anos, muitos anos, eu passei a me odiar, e por isso perdi inúmeras mulheres incríveis, e após muitos anos, como um feixe de esperança a mim própria eu disse, já chega. Eu quis me entender, eu quis me perdoar, eu quis ser feliz e não ter medo de aceitar as coisas. Eu quis e quero deixar o passado para trás, e me concentrar em novas memórias, em aventuras novas, por mais que o meu coração esteja desgastado, a verdade é que eu sempre vou acreditar no amor, o de fora, e o de dentro, o próprio, e o ao próximo. Por muito tempo eu rejeitei a mim, eu eliminei qualquer possibilidade mínima de ser feliz, mas agora eu não quero mais. Engraçado, isso aconteceu justo quando a menina que eu queria estar não pode estar comigo, e ainda é estranho me observar e ver que eu aceitei ternamente sua impossibilidade, pela primeira vez eu vi alguém agindo como eu agia e eu tomando outra atitude, aceitando e dizendo que estava tudo bem, fiz tudo isso sem excesso de fúria, sem socar parede, sem digitar um monte de palavras ruins, sem me odiar por inteira. Eu quero ser feliz, eu sou feliz, eu quero compartilhar a minha felicidade com outra pessoa, e sou capaz disso. Por muito tempo me convenci de que eu era e sempre seria destrutiva, de que tudo o que eu tocava ou que se aproximasse de mim acabaria mal, de que eu não tinha capacidade alguma de ser feliz com alguém ao meu lado, no entanto eu não acredito mais nisso, eu não deixarei mais com que isso me domine, e sei que sou capaz de compartilhar a minha felicidade com alguém e deixar com que outra pessoa compartilhe a sua comigo. Sei que a possibilidade de falhar é real, talvez eu caia e volte para a outra Roberta, e, na verdade, eu não me desfaço dela, jamais faria isso, só eu sei o quão ela também fora importante, mas que precisava de muitas ajustes para deixar-me ser feliz ao lado de alguém. Escrevo esse bilhete, pois, acaso caia, quero lembrar que em um momento imprevisível senti que poderia conseguir, e só de sentir isso uma onda de felicidade se chocou a mim violentamente, que sou feliz sozinha, mas que também posso ser feliz ao lado de outra pessoa. Quero deixar registrado, para a próxima menina que eu me apaixonar, e amar, que eu posso até cair, mas que estarei fazendo o possível para ser feliz e fazê-la feliz. Prometo deixar-me no presente, prometo tentar, acima de tudo, deixar-me no presente, prometo, a mim, e ao universo, ser o presente, o presente mais vivo que eu possa comportar. Prometo ser feliz no presente, prometo me amar no presente, e prometo amar a próxima pessoa no presente, como feixes de luzes, como uma esperança rara e perigosa, capaz de matar-me, mas também de salvar todo o presente, e toda a minha vida.

Com carinho,

Roberta Laíne.

Nenhum comentário:

Postar um comentário