terça-feira, 20 de outubro de 2015

Olhos baixos, sem rumo nem mira, cabeça inclinada para baixo, sorriso sem graça, sou eu. Eu sempre me senti estranha. Quando eu era pequena, era magrela, desengonçada, vestia blusas que cabiam mais três braços meus só de um lado, tinha um corte de cabelo estranho e gostava de coisas estranhas. Tipo minha mania de guardar as coisas, pedra, embalagens de mentas, trechos de revistas, recortes de jornal e moedas de um real, quem nunca teve um cofre? Eu olhava para o céu e me achava meio estrela, meio brilhante e menos feia, me sentia agrupada nas três Marias, mesmo sendo Roberta e ficando estranho. Eu também me encaixava no Cruzeiro do Sul. Sempre consegui me encaixar no céu, e em nenhum lugar da terra. Às vezes, nas raras vezes que um avião passava aqui na minha cidade, eu corria em silêncio para olhar, até hoje acho essa coisa de chegar mais perto das estrelas incrível, mas tenho medo, não ouso, gosto de vê aqui de baixo e se der eu vou a pé - se não der fico em casa. Sempre tive um sonho esquisito que se repete ainda hoje em vezes bem largas. É assim, um avião imenso cai na minha rua, é noite, mamãe, eu e os vizinhos vamos para a rua, na hora de ir até o grande dinossauro sem asas, buh! Já é manhã e eu acordo. Nunca entendi esse sonho, e para bom medroso eu não viajo de avião. Mas continuo olhando para cima, agora crescida não mudei muita coisa, as pernas são finas e os braços também, o cabelo é sempre despenteado e a pele é cor de nada, tenho uma pele sem graça. Os olhos grandes parecem dois binóculos quando olho para o céu, nunca me senti em casa estando em casa, mas me sinto em alguma parte do todo quando olho para cima. Desde pequenina eu pensava em ser astronauta, quem sabe lá eu encontro um pedaço de casa, casa minha.
- roberta laíne.

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