segunda-feira, 21 de abril de 2014


Remexendo nas minhas coisas, encontrei um pedaço mais que absurdo de mim, era ela, a tão estimada, e por mim glorificada: MINHA BLUSA DO BRASIL! Ah, essa blusa! Verdade que quando gosto de algo, eu gosto mesmo, um gostar absurdo que só eu consigo entender, e, para mim, minha blusa do Brasil era um pedaço da pátria, uma espécie de capa mágica, quando eu a vestia me sentia bem mais - bem mais alta, bem mais bonita, bem mais capaz de fazer o Brasil ser campeão... Lembro-me também da polêmica que minha blusa causava, de fato, todos sabiam que eu nunca gostei de tomar banho e se Lamarck estivesse vivo usaria a mim e a papai como exemplo maior de sua teoria dos caracteres adquiridos, papai não gostava de banho, logo essa característica fora passada para a próxima geração e foi! Agarrei como Taffarel a fobia a água. Ainda bem que o Brasil não jogava todos os dias, diziam as pessoas, mas todos os dias eu queria estar vestida com minha blusa (sem tomar banho, é claro).
Certa vez, lembro-me que esconderam-na, ah, fora o pior dia de minha vida! Procurei-a em todos os guarda-roupas, em todos os lugares que minha mente investigadora e raivosa achava que ela estaria, procurei até na geladeira, mas nada de minha blusa... Como o Brasil estava a um dia da tão esperada e nervosa final, ao contrário de todos, sentei-me nem um pouco animada em minha cama e vesti uma outra blusa, feia, que me deixava feia, pequena e incapaz, mas não protelei minha busca para a manhã seguinte, ela começou cinco minutos depois de estar vestida com a outra blusa... Porém, tive de dormir inconformada, o meu pedaço da pátria estava muito bem escondido, tão bem escondido que dormi e sonhei com esconderijos, acabei chegando a conclusão de que, minha blusa fora enterrada, a sete palmos como os cadáveres. Fiquei imaginando como minha pobre blusa estaria, sem ar, sufocada, suja, fétida, e cheia de terra...
O jogo do Brasil começou e o país inteiro agitou-se, a euforia era indescritível, o nervosismo e a ansiedade sem igual, enquanto isso eu estava parada, emburrada e pensativa, não queria mais saber de Brasil, só pensava em minha blusa soterrada. 
Fim do primeiro tempo, fim da minha paciência! Por que ninguém se oferecia, nesse intervalo de 15 minutos, para pegar uma inchada e desenterrar a minha blusa? Ninguém se comovia com a minha dor, talvez porque ninguém tinha AQUELA BLUSA DO BRASIL.
Final do segundo tempo, final de minha incredulidade, o Brasil estava prestes a ir para os pênaltis e eu sabia que tudo isso era devido eu não estar com minha blusa, então resolvi consternar-me em um quarto e ficar olhando para o nada enquanto todos na casa corriam, se agitavam e faziam orações em nome da vitória do Brasil, e foi consternada olhando para o nada que, vi um pedaço de manga amarela imprensada no meio de algumas outras roupas, na parte mais alta de um guarda-roupa antigo, atônita dei um pulo associando-a com a manga de minha blusa do Brasil, desesperada puxei-a sem saber o que cairia em cima de mim
— os pênaltis começaram —
Era ela! Era a minha amarelinha! Meu pedaço de nação, intacta, com fôlego e sem terra... Vesti-a mais rápido que o segundo chute do Brasil. Corri para a sala e todos estavam olhavando aflitos para aquele pequeno cubículo transmissor, creio que até quem não estava assistindo, talvez, inconscientemente, estava sentindo que o mundo estava girando mais devagar. Minha camisa cintilava... Já havíamos perdido Ayrton Senna (no mesmo ano) não poderíamos perder a Copa, o silêncio mundial fora quebrado com um pulo acompanhado de:  É TETRA, É TETRA, O BRASIL É TETRA CAMPEÃO MUNDIAL!!!
Olhei para minha camisa sã e salva, sorríamos uma para a outra. Eu brilhava de alegria por tê-la encontrado e ela cintilava a bandeira do Brasil!

ufanamente,


- roberta laíne.

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