sexta-feira, 14 de outubro de 2022

“Dorme agora, é só o vento lá fora”

Não sei como começar este texto, mas sei que ele precisa existir, então estou aqui, para cumpri-lo. Bem, passei um tempo fora do ar, longe de tudo e de todos, guardada em um canto do meu quarto, para tentar entender o mundo ao meu redor e aceitá-lo. Não é a primeira vez que isso acontece e é sempre bem difícil, pois não sinto as coisas da mesma maneira que as pessoas ao meu redor, e, agora, depois de um tempo mergulhada em mim mesma, eu aceito, sou border. Foi esse o diagnóstico que minha psicóloga deixou comigo: transtorno de personalidade borderline. E escrever sobre me faz lembrar perfeitamente do dia em que ela disse a palavra "border" e levantou a hipótese do diagnóstico, foi como um tiro em meu peito, saí da clínica sangrando e, ao chegar em casa, fui direto para o chuveiro e tudo o que eu conseguia dizer, em baixo da água, era: "Não, não, não... Por favor, Deus, não..."  
A minha angústia toda se deu ao fato de que a palavra borderline não era estranha a mim, inclusive, eu a conhecia muito bem. Tudo começou em 2014, com o namoro mais duradouro que já tive, minha namorada era border, e descobrimos o fato em meados do caminho e foi tudo muito, muito difícil. Eu saí do relacionamento exausta, absurdamente esgotada tanto física quanto psicologicamente e, mesmo tendo posto fim, ainda continuei "junto" a ela, porque Brenda precisava muito de mim e, de certa maneira, eu também precisava dela. Foi no nosso relacionamento que aprendi o que significava o transtorno de borderline, pois li bastante coisa para tentar ajudá-la, foi uma caminhada muito árdua. Lembro uma vez, que postei aqui no blog, um texto intitulado "Minha namorada tem borderline" e ele repercutiu bastante, só que negativamente, uma vez que algumas pessoas comentaram-no, trazendo relatos de o quanto seus ex-namorados(as) borders, haviam destruídos as suas vidas. Na época fiquei bastante chocada com as mensagens depreciativas, pois, o meu texto, deixava uma mensagem positiva à minha namorada border e apesar de tudo de ruim que aconteceu, eu nunca consegui ter uma visão tão maldosa dela. No final das contas, continuo com a mesma visão de antes, Brenda foi uma pessoa incrível e também altamente perigosa (a mim e a ela), porém não me arrependo de absolutamente nada do que fiz e vivi, porque fui muito feliz, e jamais iria querer apagá-la de minha memória, afinal, foi no momento em que estive no mais fundo do poço, que uma border jogou uma corda e disse que me puxaria até a luz e assim o fez. Terminei o nosso relacionamento, pois estava tudo bem impossível e eu estava afundando junto também, inclusive, tornando-me border, e se eu não tivesse terminado, tenho certeza que as coisas teriam acabado de forma trágica. 

***

Sofri muito nesse mês, foi bem horrível, tive crises desesperadoras de ansiedade, de pânico, adoeci, chorei, cortei-me superficialmente, e passei a ocupar o meu quarto quase que 24 horas por dia. Minha mãe sabia que eu estava em crise, mas como ela nunca soube o que fazer, limitou-se a se certificar de que ao menos eu comesse e estivesse viva. E agora tudo ficou mais claro, li sobre borderline para rememorar, assisti a alguns vídeos de psiquiatras para entender mais e durante esse período, muitas coisas fizeram sentindo, agora entendo por que sempre fui muito sensível as coisas e pessoas ao meu redor, desde criança. Agora compreendo com mais clareza por que me jogo de cabeça nas coisas e ficou fácil detectar o motivo pelo qual sou agressiva em situações que me fogem o controle, não tolerando atrasos ou compromissos desmarcados e o por que isso desencadeia, em mim, ataques de fúrias surreais e depois uma grande vergonha. Agora entendo por que estou lutando para esquecer duas pessoas ao mesmo tempo, pois, no final das contas, eu havia esquecido da principal pessoa dessa narrativa, eu havia esquecido de mim, no meio do caminho. E agora sei que Ivane e *aquela que não pode ser exposta* não têm culpa de absolutamente nada, como eu as culpei. Sim, transformei pequenas coisas em bombas atômicas. Sim, sei que eu quem fui a pólvora e também o fogo, ao mesmo tempo. Sim, grande parte da coisa toda foi culpa minha, porque, infelizmente, tenho uma condição escrota, em que meu sistema límbico é hipersensível, e eu acabo por sentir demais, eu sinto muito e estou falando isso nos dois sentidos...

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Agora ficou muito mais fácil entender o porquê que eu sempre olhava para alguns casais e ficava me perguntando: "como eles faziam para que durasse tanto tempo?". Eu nunca consegui porque sou border, e as coisas que há em rede, sobre os borders, são bem ruins, e eu sei que ninguém ama um border, sei que nunca ninguém aguentaria a gente, mas eu não estou triste, estou apenas reflexiva, tendo em vista que eu sempre quis casar, ter filhos e uma esposa, e não é fácil saber que isso é praticamente impossível a mim, seria como pedir a um cego que descrevesse fisicamente a pessoa que está à sua frente. Bem, acho que o mais importante disso tudo é que aceito o que sou, e que não tenho vergonha de mim, esforço-me muito para não ser uma pessoa má, e, se, infelizmente eu vim ao mundo, para sentir demais, eu vou sentir, vou sentir até o fim, mesmo sabendo que ninguém nunca amaria um borderline...

Com carinho,

- Roberta Laíne.

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