quarta-feira, 10 de março de 2021

"É o fim do mundo todo dia da semana"

Volto aqui, porque não posso me distanciar daquilo que mantém viva. Mesmo inanimada, sem um pingo de vontade de escrever, de viver, de ser... Deixo minha confissão de que só estou de pé por pura obrigação, estou no automático e fazendo as coisas de supetão, estou absurdamente perdida de mim. Desde que a Zot morreu, e foi acrescida na lista das mortes mais absurdas da minha vida, eu tento encontrar uma fresta, um feixe de luz, mas tudo o que encontro é o reflexo do meu próprio retrato no espelho, a sombra de alguém que está tão perdido quanto uma agulha em um palheiro, alguém que não tem mais paixão nas coisas da vida. Toda a intensidade que me mantinha de pé, resvala agora em lugar algum, todo o vigor incontestável que me aprumava na vida, está se transformando em pesadelos que tenho à tarde, quando vou cochilar ou dormir. Tudo o que sou agora é cinzas, pareço um dia de feriado, um cortejo fúnebre em dia de chuva, um salmo triste da missa do domingo. Eu olho para as pessoas e sinto uma vontade imensa de correr para dentro do meu quarto, esconder-me debaixo do meu cobertor, e fechar os olhos bem fortes, sentindo-me segura e longe de toda sensação urgente de ser. Eu desaprendi a ser, não sei mais como que é estar, porque eu não estou mais, eu não existo mais aqui.

Com carinho, 

Roberta Laíne. 

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