quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Fazia uma semana que eu queria escrever esse texto

Catarina talvez tenha voltado porque, há 3 anos, esquecera um molho de chaves sobre a cômoda, que ficava ao lado da cama, daquele quarto de hotel barato. 
Quando vim embora de sua cidade, trouxe comigo o molho de chaves como a prova mais insegura de que um dia vivemos algo, naquele quarto de hotel. Catarina tinha 15 anos na época, e minha alma denunciava uns 130. Não sei se Cataria se apaixonou por mim a primeira vista, comigo pelo menos não foi assim, na verdade, eu nem tinha notado sua existência, não fosse ela me mandar mensagem puxando assunto. Palavras, foi naquele momento em que me apaixonei. As palavras de Catarina eram muito convidativas, não por que ela dava em cima de mim, e sim porque eu sabia que de alguma maneira ali havia muito mais, dali, daquela fonte, onde a imaturidade escorria solta, flashes de inteligência me puxavam para perto. Havia muito mais.
Se eu soubesse que perceber sua existência me causaria tanta confusão e dor... É óbvio que nunca daríamos certo, ela tinha somente 15 anos e muitas reticências na cabeça. Ávida de vida que sou, sofri por ter que entender que naquele momento não teríamos o nosso próprio tempo. Fui embora daquela cidade com uma dor de Catarina, uma mágoa, um azedume da vida.
Mas, como toda boa e velha história, o tempo passou me fazendo esquecer tudo o que houve, mesmo que vez ou outra eu abrisse as minhas redes sociais, digitasse o nome dela, e visse um pouco de nada. A existência de Catarina me incomodava, saber que ela respirava era um misto de alívio e solidão, mas não havia mais nada a ser feito, o fim do que nem havia começado foi certeiro e frio.
Semana passada, quando já se completavam alguns anos do fim do que não teve começo, acordei no meio da noite e havia uma solicitação de Catarina em uma de minhas redes sociais, e, na hora, meio dormindo, meio acordada, só pensei: eu estava te aguardando... E voltei a dormir. Catarina mandou-me mensagem mas ignorei, ou pelo menos tentei, mandou-me outra e persisti no meu posicionamento, inclusive um posicionamento muito contraditório por sinal, afinal se eu estava aguardando-a então por que o silêncio? Todavia, passado algumas horas, o meu próprio silêncio começou a me incomodar, minhas células começaram a vibrar irrequietas com aquilo, foi então que decidi respondê-la, pedindo que me falasse o que queria com a reaproximação. Catarina disse que estava carregada de boas intenções e foi muito gentil comigo, no entanto, fui clara na recusa, sem titubear. Deixei Catarina falar o que sentia necessidade e depois falei, falamos o que foi necessário e guardado pelo tempo. Depois disso, pedi para que ela retornasse ao seu mundo e não mexesse com o meu e assim ela fez. De qualquer forma, foi bom terminar o que nem existiu, foi bom pôr um fim ao que nunca teve um começo, foi necessário, pois. E eu não acho que Catarina tenha aparecido no momento errado, muito pelo contrário, acho que ela apareceu no momento certo, de pronto ao movimento em que o universo se alinhou a esse momento... No entanto eu não estava mais lá, naquela história, com aquele amor, com aquelas palavras. Eu já não existia, porque eu tenho essa mania brutal e categórica de que, se você não consegue lidar conosco no momento da história, então nunca volte, nunca volte depois que o filme acaba e a tela fica preta, pois eu não estarei. Eu nunca fico... A não ser onde tu me deixastes, em 2018, é lá que eu estou, e é de lá que nunca mais irei voltar.

Com amor,

Roberta Laíne.

Nenhum comentário:

Postar um comentário