quarta-feira, 25 de julho de 2018

A brincadeira foi ficando séria, lá vinha Maria ao meu encontro, olhou-me nos olhos, bem no fundo, como se estivesse batendo diretamente com suas mãos a porta da minha alma, Maria não disse nada, apenas olhou-me como um furacão olha para as profundidades da terra.
Maria queres um gole de água?
Quis perguntar para cessar o furacão, mas achei melhor permanecer calada e vulnerável àquela ventania toda.
Os olhos indecifráveis de Maria transcorriam por mim.
Sente-se Maria, afasto a cadeira?
Quis novamente perguntar, mas um embargo tomou conta de mim.
Um passo à frente, Maria pôs as mãos em meu rosto, fechou os olhos e encostou sua cabeça frente a minha, passeou com as mãos pelas orelhas, cabelos, nariz, boca.
Por favor, Maria, não faça iss...
Quis dizer isso, mas minha boca já tinha sido silenciada com um beijo seu.
Beijou-me como um pincel que mergulha na tinta azul da aquarela, beijou-me parecendo "A Noite Estrelada" de Van Gogh, beijou-me meio surrealista como os quadros de Dalí.
Soltou-se, olhou-me mais uma vez com aquele olhar de quem penetra a alma, mas, agora, estava de saída.
Com um riso de canto meio sem graça e amarelo, partiu lentamente...
Volta, Maria!
Quis dizer, mas minhas palavras foram embora com Maria e nunca mais regressaram.

- Roberta Laíne.

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