sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Eu sabia, Carlos. Ela tentava me esconder, mas dava para ver que havia um negócio de poesia dentro dela. Ela via, ouvia e sentia o mundo de uma maneira diferente das outras pessoas. Eu não dizia nada, porque não entendo dessas coisas, mas eu sabia. Sabe esse negócio de se autoconhecer? Pois então, eu acho que ela sabia demais sobre ela mesma. Sabia tanto que, às vezes, nem sobrava espaço para dizermos algo que ela não soubesse sobre si. Mas é como eu te falei, eu não entendo dessas coisas, por isso ficava na minha. Às vezes, até desejava que a poesia fosse embora, que saísse do corpo dela, então ficava à espreita, à espera de alguma oportunidade. Mas não tinha dessa, não. Nela, tudo era poesia. Do corpo à alma. Do início ao fim.

Com carinho,


Roberta Laíne.

domingo, 24 de novembro de 2024

Linguística desaplicada

Repara bem, dentro da palavra coração tem oração e dentro de oração tem ação. Foi aí que fiquei pensando cá com os meus botões: talvez orar é quando a gente "pega" o nosso coração e usa para fazer coisas boas. É que sem o "c", todo o nosso coração vira uma tentativa de contato com o divino.

Com carinho,

- Roberta Laíne.

— Mas foi assim, acredite, numa bela manhã acordei e disse: 

A partir de hoje não quero mais ser a pessoa que magoa!

— Então agora você é a pessoa que é magoada?

— Também não.

— Ora, então você é o quê?

— Bem, agora, eu sou a pessoa que fica atenta à porta, analisando com cuidado quem eu deixo entrar na minha vida.

Com carinho, 

- Roberta Laíne.

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Querido diário, trago dúvidas.

Dentre todas as coisas que escrevi por aqui, desde a crise aguda que entrei, a que redigirei agora é a mais delicada: 

eu não quero mais. 

Não estou falando de viver.

Calma, senta, vou te explicar direito…

Bem, das poucas certezas que tenho na vida, uma delas foi a que escolhi como profissão. Ser professora é, de longe, o que eu mais amo e tenho habilidade para exercer. Contudo, ultimamente, não consigo mais me imaginar dentro de uma sala de aula. Não consigo mais visualizar a professora Roberta. E isso é bem estranho e perturbador. Eu estou morrendo de saudades dos meus alunos, não sei nem mensurar o tamanho desta falta. Os detalhes, os benditos detalhes… Porém, eu não quero mais voltar para a sala de aula. E acho que no fundo eu já sabia que se eu parasse… Dói tanto, sabe? Dói porque é um amor. Dói porque envolve pessoas & sentimentos. Dói porque era uma das minhas poucas certezas. Dói devido aos malditos detalhes. Queria dormir e acordar sendo a professora Roberta novamente, a que eu deixei no meio do caminho, perdida, abandonada. Queria dormir e acordar lá, sendo o que eu sempre amei ser. Queria me ter de volta, mas tudo o carrego são incertezas e dúvidas. E o desejo de que Deus tenha misericórdia de minhas falhas.

Com carinho,

- Roberta Laíne.

terça-feira, 12 de novembro de 2024

Querido diário, ontem foi meu retorno ao psiquiatra e depois que ele perguntou como eu estava, em uma escala de 0 a 10 e eu respondi entre 6,5 e 7,0, ele mudou a minha medicação. Claro que visualizei isso com péssimos olhos, principalmente por eu tomar o Cymbi há 9 anos. Enfim, após a consulta, quando retornei para casa, surtei. Acho que ontem tive a pior crise de todas, e de 0 a 10, agora sim eu daria um super 10! Um magnífico 10!, pois foi simplesmente horrível, eu me desconectei de mim e me visualizei muito distante, a ponto de me perder de verdade. Depois de muitos transtornos, aceitei ir à farmácia com minha tia e minha mãe, para comprar o meu novo medicamento, que não é tão novo assim, pois já tomei ele, por um prazo curto de tempo, antes do Cymbi. Agora minhas tias estão se revezando quem vem dormir comigo, pois a troca de medicamento é muito dolorosa e arriscada, as chances de nos matarmos aumenta muito, até a substância se estabilizar e começar a nos fazer bem. Bem, entre lágrimas e crises continuo a rezar o meu terço, permaneço viva mesmo cansada, e ainda acredito na minha cura. Meu Deus, como eu sou forte. Esse texto tinha tudo para acabar mal, mas, caramba, eu tenho muito orgulho de mim. E por mais que algumas pessoas achem que sou fraca, pois não estou vencendo a depressão, eu me daria um 10, um magnífico 10! Um puta 10 bem redondo, em cheio, 10!

Com carinho,

- Roberta Laíne.

domingo, 10 de novembro de 2024

Querido leitor, eu permaneço viva. 

Às vezes as crises aparecem fortes; noutras, mais fracas. Há noites em que eu durmo bem; noutras, nem tanto. E assim vou vivendo. Ultimamente, já estou aceitando mais o fato de tomar mais dois medicamentos além dos que eu tomava, já não acho mais um absurdo, e estou tentando ser amiga deles. No fundo, sei que eles só foram inseridos para me ajudar e preciso aceitá-los para não atrapalhar o meu tratamento. Esses dias eu tive uma crise horrível, minha mãe acha que ela foi a pior de todas, mas não quero reportar os detalhes, já passou, transpus. Continuo a rezar o meu terço todas as noites e é a minha hora favorita do dia, principalmente por eu perceber o quão sou forte e determinada. Meu peito? Meu peito é só luz, Jesus e Nossas Senhora (todas elas). Meus olhos agora enxergam com mais exatidão os meus objetivos. Não estou perdida. Tenho feito minha terapia todas as segundas, e eu amo a minha terapeuta, confio muito nela, desde sempre. Isso ajuda bastante.

Agora vamos para uma coisa inusitada. Você concorda que a pessoa que tem depressão, em geral, se sente muito sozinha e incompreendida, principalmente porque ela mesma afasta todo mundo, certo? Errado, no meu caso. Por mais que, no decorrer da minha vida, eu tenha afastado, de fato, muitas pessoas, é absurdo o quão me sinto protegida, acolhida e amada, sobretudo amada. Minha família eu não tenho nem comentários a tecer, mudaram muito em relação a minha doença e estão lidando de modo muito diferente. São empáticos, respeitosos, preocupados e acolhedores. Quase enlouqueceram junto comigo e é por mim e por eles que busco não desistir. 

Esses dias fiquei super feliz, pois ganhei uma viagem do meu tio, com tudo pago. Porém, tive que deixá-la em stand by, pois ainda não estou totalmente estável e segura para encarar um avião pela primeira vez. Outra mensagem protetora que recebi de minha família foi da minha prima, que se ofereceu para pagar o meu plano de saúde por dois meses, uma vez que não estou trabalhando e o Inss demora a nos pagar, mas também deixei em stand by, pois não estou precisando de dinheiro no momento, e acho que seria muito ganancioso de minha parte aceitar sem precisar. Eu fiz alguns cortes e estou usando a minha reserva para custear consultar, remédios, exames e etc. e se ela acabar, Deus há de me ajudar, não tenho medo. No geral, tenho recebido demonstrações de afeito que dinheiro nenhum paga, mensagens e áudios de alguns professores e alunos, e de pessoas que estão ao meu redor e gostam muito de mim, nem eu sabia o quão era amada. Já ganhei bolo, chocolate, planta, açaí, lanche, blusas, uma coisa mais divertida que a outra. Essas coisas me fortificam muito, e fazem eu abrir um sorrisão largo cheio de luz, coisas que a depressão havia pegado para ela e me deixado sem. Tenho ganhado muitos abraços também. Outro dia vi em algum lugar que abraçar era demorar-se em alguém. Então as pessoas têm se demorado mais em mim, isso é fofo, não é? 

Querido leitor, não sei como agradecer as pessoas, todas essas demonstrações de afeto, então eu rezo, pois acredito que não há no mundo nada mais lindo do que rezar por alguém. 

Com carinho,

Roberta Laíne.

sábado, 2 de novembro de 2024

Querido leitor, depois que passei a rezar um terço todas as noites, antes de dormir, parei de sentir medo da morte. Meu coração está mais sereno em relação a ela, não acho mais que seja o fim do mundo…

Ternamente,

- Roberta Laíne.