Querido diário, 

eu nem estava mais pensando nela, 

só que aí…

Ah, você já sabe,

Nem preciso completar. 

Com carinho,

- Roberta Laíne. 

Querido diário, 

Desta vez, a depressão e a ansiedade estão me ganhando e me maltratando demais. Sinto vontade de morrer, meu peito dói e eu estou cansada das situações adversas da escola. Antes de ontem tive uma conversa com a minha mãe biológica e disse a ela que eu não estava mais feliz e que eu queria sair do colégio, entregar o meu lugar. Ela ficou triste, mas disse que se isso fosse me fazer bem, eu deveria fazer. Nesse mesmo dia, inclusive, a depressão me impediu pela primeira vez de ir à comemoração do aniversário da Maria. Nunca me senti tão fracassada, triste e derrotada. Foi horrível! Eu via os meus familiares indo e eu queria ir também, mas ela não deixou, deitou-me em minha cama e ordenou que eu não saísse dela. Senti-me tão envergonhada. Queria tanto ficar bem, queria tanto que Deus me escutasse e me ajudasse de alguma maneira. Queria tanto ser como as outras pessoas ao meu redor…

Com carinho,

Roberta Laíne. 

21 de maio de 2017. Sete anos do teu nascimento e do meu renascimento aqui na terra. Filha, as poesias mais bonitas que surgem de dentro de mim são todas a você. Obrigada pela sorte que me trouxeste, por nos encher de luz, por tanto amor. Lembro-me que desejava muito que você aprendesse a ler e pudesse, sozinha, fazer a leitura das cartas que fiz/faço a ti. Mas, hoje, ao te fazer uma videochamada para desejar-lhe feliz aniversário, percebi que você nunca precisou aprender a ler para saber-sentir o que está escrito nelas. Após cantar os parabéns, decidi dizer algumas palavras a ti, mas não pude terminá-las, pois você começou a chorar… Acho que quando o sentimento não cabe no peito, ele corre para os olhos e deságua… Você sempre soube, você sempre sentiu, você sempre saberá o quão és luz, o quão és substancial. Maria Pietra, você nunca precisará ler as minhas cartas, não é sobre inteligência, é sobre amor. Obrigada por senti-las.

Amo cada átomo seu.

Feliz 7 aninhos. 

Com carinho,

Bebé.

Querido leitor,

Você já reparou que a palavra fe.li.ci.da.de começa com fé?

Aí fiquei pensando com os meus botões:

Acho que deve ser por isso que quando temos fé (no que quer que seja) temos mais chances de sermos felizes.

Com carinho,

- Roberta Laíne. 

A única coisa que vejo sair dos teus olhos é tristeza e angústia. Tá vendo como é doloroso mentir pra si mesma?

Deve ser horrível ser uma farsa.

Com carinho,

- Roberta Laíne.

Querido diário, eu amo pentear os cabelos da Maria… 

Sei que eles exigem muita calma e paciência, mas acho que é sempre assim com tudo o que realmente vale a pena. Sei que as pessoas devem achar uma grande bobagem amar algo tão simples e corriqueiro, mas é que eu sou uma colecionadora de detalhes e bobagens, e quando você coleciona algo tão peculiar, é necessário guardar coisas simples. Pois os verdadeiros colecionadores de detalhes e bobagens carregam dentro do peito muitas miudezas. Como o tipo de sorriso que ela usa para dizer que aprontou algo, que é diferente de quando ela está feliz por ter feito uma nova descoberta. Também tem o sorriso de quando ela está prestes a fazer algo que desejava muito, ele é extremamente largo e vem acompanhado de pulinhos. Mas tem o meu sorriso favorito, um que é só meu e que ela me entrega toda vez que passamos um tempo longe uma da outra (pode ser horas ou dias). Diferentemente dos outros, este tipo de sorriso é sempre acompanhado de uma pequena corrida, alguns pulinhos e um terno abraço. Eu nunca havia visto algo tão puro e genuíno. É um sorriso de quem realmente não quer nada em troca. E toda vez que o vejo meu peito explode, como se houvesse inúmeros fogos de artifícios sendo acionados lá dentro. Nesse momento, eu não consigo fazer muita coisa, a não ser sorrir de volta e abraçá-la. Meu corpo todo fica feliz. Será que fogos de artifícios também explodem dentro do peito dela? 

Tomara que Maria nunca descubra que eu coleciono as coisas mais raras do mundo. Aquelas que nos fazem olhar para o céu e dizer a Deus: puxa, vida! Como é bom estar viva!

Com carinho,

- Roberta Laíne.