sexta-feira, 17 de novembro de 2023

Enquanto procurava por uma prova, na minha escrivaninha, passei por um desenho que Maria fez para mim, em que escreveu o seu nome e o meu (Bebé), seguido de uma porção de corações ao lado. Ao ver o desenho, fiquei alguns segundos paralisada, enquanto uma angústia tomava conta de todo o meu corpo. Quis chorar, mas guardei todas as minhas lágrimas para derramá-las assim que o último aluno saísse do meu quarto. Faz algumas semanas que fomos afastadas por conta das irresponsabilidades do pai dela, e quem está pagando, com a sua ausência, sou eu. Inclusive, estou altamente depressiva, pois todas às vezes que sentia minhas forças acabarem, eu ligava para elas e conseguia enxergar uma fresta de luz, para achar-me novamente. Mas, agora, o silêncio reina entre nós. Não ligo mais para elas, elas também não ligam para mim, afinal, são só crianças. E eu tenho o péssimo hábito de não conseguir correr atrás de ninguém, por mais que aquilo esteja me matando, por mais que eu esteja totalmente destruída, eu não consigo. Em linhas gerais, sempre gostei do silêncio, acho ele confortável e seguro. Apesar de escrever, nunca gostei de muitas palavras, mesmo sabendo o quão isto seja paradoxal. Contudo, este silêncio está me matando mais rapidamente do que os outros que enfrentei, pois ele diz respeito a tudo o que eu acredito aqui na Terra, e eu não sei o que fazer para suportá-lo, pois minha depressão já percebeu e tem pulado de alegria, ela está me destruindo com muita força e rindo aos quatro quantos do mundo. O vento disse-me, o vento soprou. Querido leitor, se eu pudesse escolher um dia para morrer, sem dúvidas eu escolheria o dia em que a Maria parou de falar comigo.

Com ternura,

Bebé.

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