domingo, 17 de dezembro de 2017

Parecia que iria cair uma tempestade em mim, eu estava nublada, fria, escura. Tão carregada, coberta, fechada, tempestuosa. Eu já começava a derramar os primeiros pingos suaves, embalando um vento singelo de final de outono, aí eu trovejei, eu clareei e logo apaguei. Eu começava a escorrer por esgotos, entre plantas e telhas, eu fazia as pessoas correr para se esconder de mim; pessoas de todo tipo, de todo jeito, com capas, guarda-chuvas, enrolando o jornal. Todas tinham algo em comum: encender-se de mim. E eu tão sem jeito caía sem parar, pedia desculpas, mas ninguém me ouvia, chamava o vento pra me empurrar para longe de todos, mas eu logo voltava a molhar. Eu lamentava, então começava a chorar e virava tempestade, eu desaguava nas pessoas, eu molhava a todos. Eu lamentava por não saber ser como o sol, mesmo sendo tão transparente e essencial, não era eu quem brilhava, tudo o que eu fazia era continuar afastando as pessoas para longe de mim. Não que eu tenha inveja do sol, não que eu não tenha querido ter nascido chuva, eu só queria que as pessoas parassem de fugir de mim, de procurar abrigo quando eu fosse tempestade, de se enxugar quando tudo o que eu fazia era molhar. Eu só queria que as pessoas dançassem comigo, em mim. Nunca quis fazer parte das noites tristes e nostálgicas das pessoas, nunca quis embalar canções tristes. Eu só queria continuar sendo chuva, continuar molhando, continuar clareando e apagando, e fazer sorrir quem se enxarca em mim.

- Roberta Laíne.

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