Era
dia quando Izabela, mais bela do que Iza, cruzara a rua avenida
Castelo Branco passando entre os taxistas e a feira da cidade. O dia começara
esplendido com o nascer do sol alaranjado de Santa Luzia, mais Luzia do que
Santa, pois Izabela voltava de uma noite que virara dia, e que possivelmente
viraria noite e dia novamente. Haviam dois dias que bela Iza não dormia; as
drogas começaram a fazer parte de sua vida desde que seu pai morrera, ficando
aos cuidados, ou ausência deles na mão de sua madrasta, Cléo. Embalada ao som
de uma festa de aparelhagens da noite passada, distribuía sorrisos ao andar
protegida com seu namorado, Rodriguinho de Santa, que de Santo ou Santa não
tinha absolutamente nada, era o dono da maior boca de fumo da cidade, e falava
com seu português não estudado dos grandes “pobremas” e “tretas” da exportação
da erva. Izabela não havia recepcionado bem a morte de seu pai, estudar se
tornou difícil, pensar, impossível. Resolveu então recepcionar as alucinações
que a maconha lhe proporcionava, ficar leve e sair da realidade era seu maior
barato, junto a Rodriguinho. Quatorze anos, idade pequena para o corpo de
mulher, passou a usar mini saias e tops, exibir o corpo começara a se tornar
tão bom quanto usar maconha, era um barato ver os homens babando pela Iza do
Rodriguinho. Na paróquia de São Francisco, Cléo, sua madrasta, rezava suas
intensas “Ave-marias” pedindo pelo marido falecido, pelas filhas, por si, menos
por Iza. A garota achava ela que estava perdida, órfão de pai, mãe, filha das
drogas. Depois da missa das cinco Iza saiu para a boca do namorado, em busca de
barato e diversão. Chegando lá, a música vinda de uma caixa amplificada rolava
solta e alta, o cd de melody era o mais tocado, Iza dançava como bailarina com
passes e gingados arduamente ensaiados. A festa rolava solta e a droga também,
maconha, cocaína, pó, remédio, bala, e até tabaco exalava a festa na casa de
Rodriguinho. O barato corria solto quando de repente um estrondo ressoo do
fundo da boca, bala! Era uma bala trocada
entre policiais e Rodriguinho. Iza envolvida pelo suingue do super pop continuou
a dançar feliz e longe da realidade, parou quando escutou outro estrondo, o
barulho tinha sido mais forte, preocupou-se em procurar Rodriguinho quando de
repente sentou em uma cadeira, pesada, com uma forte dor de cabeça, o barato já
estava acabando, e sua vida também, o terceiro estrondo tinha sido uma bala em
suas costas, sentada em uma poça de sangue Iza viu a imagem de seu querido pai,
lembrou-se de quando era menina e não precisava de maconha para viver um
barato, lembrou-se dos cartazes da escola dizendo: não as drogas. Lembrou-se do
por do sol alaranjado de Santa Luzia, fechou os olhos, Ave-Maria.
Roberta Laíne.
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