terça-feira, 28 de maio de 2013

Voltava eu da faculdade um tanto quanto cabisbaixa, aquele sol refletindo em meus 20 e tantos anos, 21 para ser mais específica, me fez lembrar de algumas frustrações adormecidas na noite e que despertaram ao me acordar, lembrei de lembranças, lembrei que as coisas eram bem mais fáceis quando eu tinha lá pros meus 7/8 anos e mensalmente eu acompanhava papai ao banco para receber seu salário, lembro-me exatamente como era nosso percurso. Papai chegava ao meio dia ou meio dia e meia e íamos em sua bicicleta até o banco, entrávamos pela roleta que eu morria de medo, mas passava, pois estava com papai. Por conseguinte eu via uma multidão de gente e mistura de falas, uns com ternos e gravatas outros com blusas coloridas de golas, a maioria eram homens que falavam sem parar, eu não entendia tudo aquilo, mas entendia que tinha que ficar em uma fila até a vez de papai, com seu contracheque na mão, chegar. E esperávamos, papai olhava para mim e sorria, conversávamos algumas coisas que eu não consigo lembrar, às vezes ele me mostrava o contracheque, me dizia sobre os números e me perguntava sobre matemática, dizendo: 9, noves fora? E eu respondia nada. Papai amava essa contagem que ensinara para mim e para seus netos, creio que quase todos, e sorria quando me via acertar, como sorria no banco. Às vezes papai olhava para os caras ao seu lado e conversava com alguns, outros eram seus camaradas, eu observava aquelas faces e também sorria quando ele apontava e dizia: "essa aqui é minha filha mais nova, peteca." Eu segurava as mãos grossas, grandes e ásperas dele, mas que tinham uma brandura e ternura que mão nenhuma conseguiria imitar, eram tão grandes que recobriam as minhas duas mãozinhas, mas ele segurava apenas uma, e quando enfim chegava sua vez de mostrar o contracheque, não mais para mim e, sim, para moça, ele a soltava, nesse exato momento eu me sentia desprotegida e na chuva, como se qualquer coisa ou pessoa dalí tivesse o poder de me bater ou machucar. Mas papai logo assinava e saíamos do banco, essa era minha parte favorita, pois íamos à lanchonete ao lado e eu poderia escolher qualquer suco de qualquer cor que quisesse, e qualquer acompanhamento que me agradasse; eu não entendia a ganância que tinha o dinheiro, mas sabia que o de papai dava pra comprar suco de qualquer cor com bolo de chocolate delicioso, e depois desta festa voltávamos para casa. Papai sorria e eu? Eu mais ainda na espera do próximo mês de banco chegar, e, assim, repetirmos aquela mesma cena outra vez...

Era mês de banco com papai.


- roberta laíne.

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