segunda-feira, 29 de julho de 2024

Querido diário, 

gosto de saber que sempre escrevi cartas. 

Quando eu era criança e a minha irmã viajava, eu escrevia cartas a ela pedindo que voltasse. Era engraçado, fofo e encantador. Às vezes, eu também brincava de escrever cartas para pessoas desconhecidas e, depois de prontas, eu as colocava dentro da minha mochila favorita e saía na minha bicicleta para entregá-las. É claro que eu nunca as entregava, mas quando voltava para casa, eu era tomada pela sensação de missão cumprida, como se as cartas tivessem sido entregues. Lembro-me até da rua que eu descia. Em minha memória, tudo aparece em verde musgo, com cheiro de Pipoca Pantera. Depois que cresci, continuei a fazer cartas, só que essas eu já entregava. Se criança fui intensa, adolescente fui mais ainda. Contudo, eu acreditava que quando me tornasse adulta não iria mais escrevê-las, que elas ficariam no passado. Porém, elas permaneceram, continuo a fazer cartas. E no final das contas talvez elas sejam a forma mais eficaz, serena e voraz de dizer o que sinto. Talvez estas cartas sejam o documento mais genuíno de minha passagem pela terra. Talvez eu só saiba escrever cartas e não poesias. Talvez dê para guardar o mundo inteiro dentro de um envelope. Talvez eu não precise de endereços, mas sim continuar a escrever as minhas cartas, colocá-las em uma mochila e sair para entregá-las, mesmo voltando com ela cheia.

Com carinho,

- Roberta Laíne.  

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