segunda-feira, 29 de julho de 2024

Querido diário, 

gosto de saber que sempre escrevi cartas. 

Quando eu era criança e a minha irmã viajava, eu escrevia cartas a ela pedindo que voltasse. Era engraçado, fofo e encantador. Às vezes, eu também brincava de escrever cartas para pessoas desconhecidas e, depois de prontas, eu as colocava dentro da minha mochila favorita e saía na minha bicicleta para entregá-las. É claro que eu nunca as entregava, mas quando voltava para casa, eu era tomada pela sensação de missão cumprida, como se as cartas tivessem sido entregues. Lembro-me até da rua que eu descia. Em minha memória, tudo aparece em verde musgo, com cheiro de Pipoca Pantera. Depois que cresci, continuei a fazer cartas, só que essas eu já entregava. Se criança fui intensa, adolescente fui mais ainda. Contudo, eu acreditava que quando me tornasse adulta não iria mais escrevê-las, que elas ficariam no passado. Porém, elas permaneceram, continuo a fazer cartas. E no final das contas talvez elas sejam a forma mais eficaz, serena e voraz de dizer o que sinto. Talvez estas cartas sejam o documento mais genuíno de minha passagem pela terra. Talvez eu só saiba escrever cartas e não poesias. Talvez dê para guardar o mundo inteiro dentro de um envelope. Talvez eu não precise de endereços, mas sim continuar a escrever as minhas cartas, colocá-las em uma mochila e sair para entregá-las, mesmo voltando com ela cheia.

Com carinho,

- Roberta Laíne.  

domingo, 14 de julho de 2024

Querido diário, 

Eu acho o domingo um dia formidável para escrever. Não sei explicar, mas parece-me que sempre soa confortável rabiscar/digitar algo no dia de hoje. E, bem, sendo bem honesta não tenho absolutamente nada de relevante para falar. Acho que só queria vir por aqui, sem pretensão, no meu lugar favorito. É bom saber que eu sempre venho para cá, desde a minha adolescência. Pois há uma porção de lugares que eu poderia ir, mas nenhum seria como este. É tipo o meu esconderijo. 
Querido leitor, você também tem um esconderijo? Para onde você vai quando tudo fica horrível? Ou bom demais? Ou ameno? 
Não sou muito boa com relações interpessoais, mas sou boa em estar aqui...

Com carinho,

- Roberta Laíne.  

domingo, 7 de julho de 2024

Querido diário, 

tenho vivido dias pacatos de férias. Isso é muito bom, mas às vezes pode ser ruim, pois tudo que é mórbido demais tende a prejudicar o meu quadro de depressão. É que como tenho muito tempo livre, nem sempre consigo utilizá-lo para fazer as coisas que gosto e, geralmente, as coisas que gosto são bem solitárias, tipo os vários filmes que já assisti. Porém, as minhas Marias estão aqui e mesmo elas saindo bastante para passear, o tempo que consigo ficar com elas é incrível. Hoje foi um dia de domingo comum, daqueles demasiadamente mórbidos. Então, decidi sair para comprar algo, e acabei voltando para casa com um travesseiro novo e uma blusa. Acho que o travesseiro é um forte indicativo do quão tenho dormido bastante. Enfim, depois de almoçar, entrei para o meu quarto para dormir, saí até fazendo graça e desejando boa noite para todo mundo, o que fez minha mãe me questionar se eu só iria acordar no outro dia. Em linhas gerais, eu fico muito feliz em saber que minha mãe me entende e não reclama de eu ficar muito tempo dentro do meu quarto assistindo filmes e séries ou lendo. Acredito que ela acha bem melhor eu ser assim do que estar por aí viajando, longe de sua visão. Às vezes penso que ela acredita que eu ainda tenho 12 anos e uma infinidade de medos. Mas eu não tenho mais 12 anos, só ficaram os medos. Dormir à tarde nunca foi um hábito tão saudável a mim, pois sempre tenho muitos pesadelos, o que me faz acreditar na minha forte ligação com o mundo espiritual e, também, com a maldita depressão. Porém, já me acostumei, a gente se acostuma até com as coisas ruins, Darwin tinha razão. Não que ele tenha dito isso em sua teoria evolucionista, mas, no final das contas, sabemos que somente os mais fortes e adaptáveis são os que permanecem. Acordei mal, sentido meu corpo pesado, extremamente pesado. Parecia que eu não cabia nele, tudo estava lento e mórbido, era muito difícil fazer qualquer tipo de movimento, por mais simples que fosse. Então resolvi deixar aquela sensação tomar conta de mim e disse à minha mãe que não estava bem, voltando logo em seguida para o meu quarto. Pouco tempo depois, mamãe falou para alguém que eu estava doente, foi quando Maria escutou e saiu do quarto dela para vir até o meu, questionando-me o que havia acontecido. Foi engraçado, ela olhou para e disse: "Você adoeceu do nada, Bebé?". Eu sorri e disse que achava que sim. Depois disso, ela resolveu fazer uma brincadeira comigo, uma bem diferente das outras, pois, nesta, eu não precisava me mexer, apenas responder há algumas palavras que ela perguntava:

— Uma alegria?

— Um medo?

— Uma raiva?

— Um nojo?

— Uma ansiedade?

— Um pesadelo?

Mesmo sem muita energia, comecei a respondê-la e aquilo foi me distraindo. Logo em seguida, resolvi fazer as mesmas perguntas a ela, mas eu não contava com uma de suas respostas, apesar de conhecê-la dos pés à cabeça.

— Um pesadelo?

— Que você suma do mundo!

— Como assim, sumir do mundo?

— Que você vá para o céu, Bebé. Morrer.

Fiquei em silêncio, aquilo foi como um soco na minha alma e na possível doença que eu estava, quebrando-a em mil pedaços. Acho que Maria sabe o que é depressão, e também acho que ela entende muito bem da minha. Abraçamo-nos e começamos a conversar quando, de repente, vi a minha depressão abrindo a porta do meu quarto e indo embora. Acenei ternamente, como quem diz, “respeito a sua derrota na luta de hoje”. Naquele momento, tive forças para levantar e tomar um banho. Maria não saiu do meu quarto, ficou de prontidão a me esperar. Quando retornei, decidi convidá-la para terminarmos de assistir o filme que ela havia me obrigado a escolher. Rimos quando eu admiti que havia gostado. Pouco tempo depois, ela retornou para a sua casa e eu fiquei aqui, curada, cheia de flores no peito, agradecendo a Deus por nunca ter me deixado sozinha.


Com muito carinho, 


- Roberta Laíne.