sábado, 1 de julho de 2023

— E Eugênia?

— Você não soube? Eugênia... (contorceu-se na cadeira), bem... (pigarreou), Eugênia morreu...

— Meu Deus! E do que ela morreu, Carlos?

— De poesia.

— De poesia? (perguntou espantada) 

— Sim, de poesia.

— E como foi isso? (altamente intrigada)

— Não sei muitos detalhes. Você sabe, desde nova ela lia aqueles livros estranhos, “Lira dos vinte anos”, “Livro de mágoas”, era apaixonada por um tal de Álvares de Azevedo e por aquela Florbela Espanca. E aí foi se agarrando a um tal de Schopenhauer e depois Nietzsche e no final não deu outra. Não suportou. Disseram-me que ela foi achada, já sem vida, com um papel em que estava impresso o poema "Ismália", do Alphonsus de Guimaraens. E eu vi com os meus próprios olhos, estava lá escrito, em seu atestado de óbito, Eugênia havia morrido de poesia.

Com carinho,

Roberta Laíne.

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