quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Mais uma carta para papai

Eu tô com dor papai. Eles me furaram de novo, pai. Levaram meu sangue, levaram a última gota de dignidade que eu tinha, levaram nada, pois eu não sou nada, pai. Os remédios não fazem mais efeito, eu tô com tanto medo. Por que pai? Por que tudo se tornou tão difícil? Me diz, me diz onde eu errei, me diz onde falhei? Me diz onde não fui uma boa filha? Me perdoa por qualquer coisa, mas não deixa eles me furarem mais, pai. Não dói na pele ou na veia, dói na alma. Me abraça pai. Eu sinto saudades. São tantas agulhadas, são tantos comprimidos, são tantos risos e chacotas, são tantas incompreensões, é por isso que não tenho mais amigos pai, ninguém quer ser amigo de alguém que passa mais tempo no hospital do que em casa, sem contar que não sou descolada, não posso beber por causa dos medicamentos, e por causa do gosto também, tem gosto ruim, pai. Tem gosto de desespero, tem o mesmo gosto de clonazepam em gostas de 2,5 ml.

- roberta laíne.

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