sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Se um dia você descobrir que me carrega no bolso da sua camisa, perto da gola, promete nunca me deixar cair de lá? Do teu bolso o mundo é alto, o chão é uma escada rolante sem fim, o vento bate forte, e, de dia, dá pra ver mais de perto o Sol, de noite um abaju imenso com o brilho das estrelas. Mas se um dia você descobrir... Tenho medo, morro de medo de um dia você descobrir que eu moro no bolso de sua camisa, perto da gola. De lá o pouco pano me protege do frio quando você sai na correria em busca de um ônibus para ir para casa, ao correr você sempre segura forte bem no meio do peito me protegendo e amassando o restante da blusa, menos o bolso perto da gola... O problema é que você não sabe, você não sabe que eu moro no bolso da sua blusa, e que ao chegarmos em casa encharcados, você me troca de camisa e me põe em um bolso mais aconchegante e quentinho, você se joga no sofá para assistirmos algo na tv e sempre acaba dormindo, e eu fico do seu bolso te olhando a sonhar, quer dizer, até a hora em que você também me põe para dormir, colocando sua mão no peito, bem no meio do bolso onde eu durmo - com o calor de tua mão tão macia... Mas e se um dia você descobrir? Que ao acordar e tomar seu café da manhã divide-o comigo, quando se sujas e repousa a mão como uma criança em sua blusa, jogando migalhas de pão para mim, saindo quase sempre com a camisa suja, quando me põe muita comida e esquece de retirar o café da manhã, mas eu não reclamo, acho fofo, até. Mas tenho medo, morro de medo, de, se um dia você descobrir, se um dia você descobrir que moro no bolso da sua camisa, perto da gola, você então se irrite e resolva jogar todas as suas camisas fora, comprar uma nova, sem bolso.

- roberta laíne.

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